Professor, como
é a sua aula?
Prof. Tiago Lacerda
É comum ouvir
de alguns colegas, amigos ou até mesmo familiares, que a vida do professor é
muito simples, ainda mais se o professor “só dá aulas”, vive somente disso. No imaginário
do senso comum é só preparar uma aula e passar este conteúdo em sala, simples
assim! Mas a vida real desta profissão não é bem assim que acontece. “Dar uma
aula” não é apenas chegar em sala e expor o conteúdo, a aula vai muito além
disso. E antes que eu me esqueça, não é por usar o verbo “dar” para entender
que estamos lecionando que não gostamos de dinheiro. Vendemos nossas aulas como
todas as profissões “vendem” o seu produto. Mas não podemos confundir “vendemos
uma aula” com “nos vendemos numa aula”. Porque para alguns, tanto faz, se a
aula foi boa ou não, o importante é o pacto de mediocridade: eu estou cansado
então finjo trabalhar, enquanto eles fingem aprender.
Mas voltando
ao ofício... nos bastidores da vida do professor há uma sequência de atividades
que muitas vezes não são valorizadas, sequer conhecidas: preparar as aulas
(isso já requer muita leitura e estudo, mesmo quando o professor já domina o
assunto), elaborar as atividades e provas, pensar na didática específica para
cada turma, escola ou nível de formação, e se até aqui você já achou bastante
coisa, saiba que não é nem a metade do trabalho que será desenvolvido (não
estou reclamando, apenas apontando alguns fatos). É preciso corrigir estas
atividades e provas, verificar onde os alunos estão com mais dificuldades e
retomar o conteúdo com novas abordagens para proporcioná-los uma nova chance de
aprendizagem e muitas vezes isso pode não bastar, o que desanima muitos
professores.
Ah, me
desculpe, eu quase ia me esquecendo de dizer que estou me referindo a um bom
professor que tem vocação para esta profissão e a desenvolve com entusiasmo
mesmo diante da conjuntura atual, pode acreditar, além de dar aulas, também
acompanhamos o que acontece no Brasil e no mundo. Agora, sim. Posso continuar...
Outra coisa
que escuto muito entre os professores é: “quanto tempo você tem de sala de
aula?”. De repente, se o professor tem menos de 10 anos de sala de aula ele vai
ouvir de alguns colegas: “ahh, você é novo ainda, quero ver daqui uns anos se
você terá esta disponibilidade toda...”. Convenhamos, é desanimador! Mas quando
eu me propus escrever este pequeno texto, meu foco não era para estes
professores desanimadores, mas sim, para aqueles que têm na profissão uma
verdadeira vocação. E para aqueles que aspiram esta profissão, para que saibam
que há professores e professores! Porque não é verdade que com os anos o
desânimo toma conta e naturalmente o professor vai ficando relaxado. Não é
verdade porque conheço e tive excelentes professores (não foram poucos e de
alguns sou amigo até hoje) que mesmo próximos da aposentadoria me apresentaram
determinação e uma alegria própria daqueles que fazem o que amam (vida
profissional com leveza). Eu poderia te convidar para a seguinte reflexão: como
é a sua aula? E enquanto você pensa nisso, não podemos nos esquivar das questões
que perpassa pela profissão que é a má valorização pelo Estado, os baixos
salários etc. Isso é algo real, mas não é o preponderante para que uma pessoa
deixe de fazer o seu melhor.
E no mais,
não há recompensa maior que ver o fruto de seu trabalho ser valorizado e
reconhecido, mesmo que muito tempo depois, pelos alunos que em suas profissões
recordam que tiveram alguns, na etapa formativa, que lhes deixaram marcas,
deixaram pensamentos (presentes caros). Então, eu termino reforçando que, não é
apenas uma aula, ou como alguns gostam de dizem, uma aulinha. E se não é apenas
uma aula é o que então, professor? Isso só a sua consciência (e seus alunos,
que não são tão bobos assim) que poderá dizer.