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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Questões sobre David Hume - Gabarito


01) (UFU) Leia atentamente o texto abaixo sobre a teoria do hábito em David Hume. E é certo que estamos aventando aqui uma proposição que, se não é verdadeira, é pelo menos muito inteligível, ao afirmarmos que, após a conjunção constante de dois objetos – calor e chama, por exemplo, ou peso e solidez –, é exclusivamente o hábito que nos faz esperar um deles a partir do aparecimento do outro. (HUME, D. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. São Paulo: Editora UNESP, 2004. p. 75.) Com base na Teoria de Hume e no texto acima, marque a alternativa INCORRETA, ou seja, aquela que de modo algum pode ser uma interpretação adequada desse texto.

a) A conjunção constante entre dois objetos explica a força do hábito e, conseqüentemente, o procedimento da inferência. 
b) A hipótese do hábito é conseqüente com a teoria de Hume, de que todo o nosso conhecimento é construído por experiência e observação. 
c) Se a causalidade fosse construída a priori e de modo necessário, não seria preciso recorrer à experiência e à repetição para que de uma causa fosse extraído o respectivo efeito. 
d) O hábito jamais pode ser a base da inferência. Em virtude disso, os conceitos de causa e efeito jamais podem se aplicar a qualquer objeto da experiência.

02) (UEM) “O hábito é, pois, o grande guia da vida humana. É aquele princípio único que faz com que nossa experiência nos seja útil e nos leve a esperar, no futuro, uma seqüência de acontecimentos semelhante às que se verificaram no passado. Sem a ação do hábito, ignoraríamos completamente toda questão de fato além do que está imediatamente presente à memória ou aos sentidos. Jamais saberíamos como adequar os meios aos fins ou como utilizar os nossos poderes naturais na produção de um efeito qualquer. Seria o fim imediato de toda a ação, assim como da maior parte da especulação.” (HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973, pp. 145-146. Os Pensadores). 

Com base nesse texto e no seu conhecimento sobre a Filosofia de Hume, assinale o que for correto. 

01) Segundo Hume, entre um fenômeno e outro não há conexão causal necessária que possa ser verificada na experiência; é o hábito que explica a noção da relação causa e efeito: por termos visto, várias vezes juntos, dois objetos ou fatos – por exemplo, calor e chama, peso e solidez –, somos levados, pelo costume, a prever um quando o outro se apresenta. 
02) Como representante do racionalismo, Hume afirmou que o princípio de causalidade, lei inexorável que regula todos os acontecimentos da natureza, é inferido da experiência por um processo de raciocínio. 
04) Para Hume, o hábito é um falso guia; se não nos fiarmos na razão, fonte do conhecimento verdadeiro, e nos deixarmos conduzir pelo costume, erraremos inevitavelmente em nossas ações e investigações. 
08) É o hábito que nos permite ultrapassar os dados empíricos, os quais possuímos seja na forma de impressão seja na forma de idéias, e afirmar mais do que aquilo o qual pode ser alcançado na experiência imediata. 
16) A ideia de causa é apenas uma ideia geral constituída pela associação de idéias e baseada na crença formada pelo hábito.  

03) (UEL) Leia o texto a seguir: Certamente, temos aqui ao menos uma proposição bem inteligível, senão uma verdade, quando afirmamos que, depois da conjunção constante de dois objetos, por exemplo, calor e chama, peso e solidez, unicamente o costume nos determina a esperar um devido ao aparecimento do outro. Parece que esta hipótese é a única que explica a dificuldade que temos de, em mil casos, tirar uma conclusão que não somos capazes de tirar de um só caso, que não discrepa em nenhum aspecto dos outros. A razão não é capaz de semelhante variação. As conclusões tiradas por ela, ao considerar um círculo, são as mesmas que formaria examinando todos os círculos do universo. Mas ninguém, tendo visto somente um corpo se mover depois de ter sido impulsionado por outro, poderia inferir que todos os demais corpos se moveriam depois de receberem impulso igual. Portanto, todas as inferências tiradas da experiência são efeitos do costume e não do raciocínio. (HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 1999. pp. 61-62.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de David Hume, é correto afirmar: 

a) A razão, para Hume, é incapaz de demonstrar proposições matemáticas, como, por exemplo, uma proposição da geometria acerca de um círculo. 
b) Hume defende que todo tipo de conhecimento, matemático ou experimental, é obtido mediante o uso da razão, e pode ser justificado com base nas operações do raciocínio. 
c) É necessário examinar um grande número de círculos, de acordo com Hume, para se poder concluir, por exemplo, que a área de um círculo qualquer é igual a ð multiplicado pelo quadrado do raio desse círculo. 
d) Hume pode ser classificado como um filósofo cético, no sentido de que ele defende a impossibilidade de se obter qualquer tipo de conhecimento com base na razão. 
e) Segundo Hume, somente o costume, e não a razão, pode ser apontado como sendo o responsável pelas conclusões acerca da relação de causa e efeito, às quais as pessoas chegam com base na experiência.  
   
04) (UEL) Leia o texto a seguir. Como o costume nos determina a transferir o passado para o futuro em todas as nossas inferências, esperamos —se o passado tem sido inteiramente regular e uniforme—o mesmo evento com a máxima segurança e não toleramos qualquer suposição contrária. Mas, se temos encontrado que diferentes efeitos acompanham causas que em aparência são exatamente similares, todos estes efeitos variados devem apresentar-se ao espírito ao transferir o passado para o futuro, e devemos considerá-los quando determinamos a probabilidade do evento. (HUME, D. Investigações acerca do entendimento humano. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 73.) 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Hume, é correto afirmar: 

a) Hume procura demonstrar o cálculo matemático de probabilidades. 
b) Hume procura mostrar o mecanismo psicológico pelo qual a crença se fixa na imaginação. 
c) Para Hume, há uma conexão necessária entre causa e efeito. 
d) Para Hume, as inferências causais são a priori. 
e) Hume procura mostrar que crença e ficção produzem o mesmo efeito na imaginação humana.  

domingo, 16 de agosto de 2015

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - NOMENCLATURA CORRETA

Prof. Tiago Lacerda

Desde os tempos mais remotos sabemos que existem alguns pronomes de tratamento para cada tipo de pessoa de acordo com o cargo que ela ocupa. Aprendemos também a chamar de pai e mãe nossos genitores substituindo seu nome por uma palavra que carrega em si um peso de maior responsabilidade e uma função importante. Mas noutras ocasiões é possível que lembremos das pessoas por alguma característica negativa que ela tem, por exemplo, ao se referir a uma senhora internada em determinado quarto de hospital, os médicos poderiam apenas dizer seu nome, mas muitas vezes ouvimos: ­É a senhora com câncer terminal no 401, ou aquela com apendicite supurada. Não chamamos pelo nome, mas tratamos as pessoas pelas suas doenças ou patologias. Da mesma forma as pessoas com deficiência também têm um tratamento específico que muitas vezes não é observado causando um desconforto ou até mesmo ao usar uma nomenclatura ou vocabulário inadequado podemos expressar mesmo que involuntariamente um preconceito por falta de conhecimento.
Mas então, quando eu estiver falando de uma pessoa cadeirante, ou de alguém que tem a vista um pouco comprometida ou outra dificuldade qualquer qual o melhor termo para se dirigir a eles? O correto é Pessoa com deficiência. De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência que foi incorporada a legislação brasileira em 2008 O documento obteve, assim, equivalência de emenda constitucional, valorizando a atuação conjunta entre sociedade civil e governo, em um esforço democrático e possível. Não se diz pessoa portadora de deficiência ou portador de deficiência, pois a pessoa não porta, não carrega sua deficiência, ela tem deficiência e, antes de ter a deficiência, ela é uma pessoa como qualquer outra.
Para uma contextualização histórica breve podemos destacar algumas principais nomenclaturas para ilustrar o movimento conceitual do tratamento das pessoas com deficiência. Segundo a Resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75 tínhamos o termo "pessoas deficientes" que se “referia a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais”[1]. Nem precisamos de muitas reflexões para perceber que esse termo carrega em si um problema. Não podemos associar a deficiência à pessoa em si, ela não é toda deficiente, mas pode apresentar certa deficiência.
Ao se questionar o termo pessoa com deficiência, sugeriram outro para substituí-lo: “pessoas portadoras de deficiência”. Tal termo também apresenta um problema, pois as pessoas não “portam” sua deficiência como portam outro objeto qualquer, se assim fosse, elas poderia deixar em casa sua deficiência e andar como outra qualquer sem deficiência. Depois dos anos 90 outro termo apareceu para substituir a palavra deficiência: pessoas com necessidades especiais, daí a expressão portadores de necessidades especiais. E na mesma época o termo foi amplamente discutido procurando termos que melhor designassem tais pessoas numa tentativa de amenizar o preconceito. Por isso chamávamos de crianças especiais, alunos especiais e daí por diante. Mas o melhor termo encontrado foi “pessoas com deficiência” após intensos debates e pela escolha dos próprios adeptos dos grupos constituídos pelas pessoas com deficiência. Esta é a denominação internacionalmente mais frequente, conforme demonstra Romeu Kazumi Sassaki[2].
Para saber mais informações sobre as terminologias vigentes acesse:

Site da prefeitura de Curitiba: Pessoas com Deficiência:
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:



[1] Resolução adotada pela Assembleia Geral da Nações Unidas 9 de dezembro de 1975 Comitê Social Humanitário e Cultural. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp /arquivos/pdf/dec_def.pdf> Acessado em: 16 de ago. 2015.
[2] Publicado no livreto Vida Independente: história, movimento, liderança, conceito, filosofia e fundamentos. São Paulo: RNR, 2003, p. 12-16

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Matrix e um pouco de Filosofia - Parte I

por Tiago Eurico de Lacerda

Vivemos numa sociedade movida pela indústria cultural onde o indivíduo iludido com as falácias sociais passa a cultivar uma cultura de massa em detrimento do processo de conhecer a si. Este é um ideal socrático que distancia o homem das ilusões terrenas advindas dos sentidos levando-o às verdades metafísicas, cerne da filosofia platônica.
No filme Matrix, Neo, levado por Morfeu à outra dimensão, dita por ele como real, se surpreende ao perceber as muitas semelhanças entre os dois mundos. Sua primeira análise é sobre a realidade das coisas materiais que ele podia perceber dentro da Matrix, mas não podemos nos esquecer de que para a filosofia idealista as coisas materiais, ou são expressões das ideias ou dependem delas. Assim, como saber se estamos vivendo a realidade ou sonhando? Como fugir das ilusões que criamos para nos consolar? A primeira resposta pode ser traduzida pelo método cartesiano da dúvida, pois o enfrentamento da realidade é o primeiro passo para sairmos das ilusões sobre nós mesmos e caminharmos rumo ao autoconhecimento e à primeira verdade cartesiana: Cogito ergo sum.
Se conhecer como uma coisa que pensa é não aceitar as respostas que todo mundo dá, mas buscar dentro de si uma decisão madura diante das diversas possibilidades de escolha e por fim decidir ser senhor e artista de si mesmo para caminhar na contramão do sistema que quer nos configurar a seu bel prazer, eliminando nossa subjetividade.
Todo conhecimento tido como válido pelos empiristas baseia-se na experiência, mas a partir de Descartes, filósofo racionalista, percebemos que tais experiências nos levam ao erro e às ilusões. O palco das ilusões pode ser traduzido pela sociedade que busca padronizar comportamentos, levando os indivíduos a uma reprodução de ações impensadas, ou seja, pré-programadas, aceitando como respostas e como verdades os dizeres de todos.

Matrix é um filme criado para apresentar uma reflexão de que o mundo em que vivemos não passa de uma grande ilusão. No filme é apresentado uma possibilidade de transitar por esses dois mundos e podemos fazer isso quando cremos ser possível encontrar respostas que nos satisfaçam melhor que as anteriores, ou que há um plano, ideias, onde podemos alcanças as verdades, os protótipos de perfeição que não encontramos em nosso mundo. Neo a partir do momento em que fez a escolha pela pílula vermelha iniciou um processo de desconstrução de verdades para encontrar uma que fosse indubitável. O preço da verdade foi pago de forma árdua em acreditar que era ele o escolhido para a missão que lhe designaram. Crer nessa premissa lhe abriu horizontes para perceber que não precisaria ser apenas uma peça de manobra do sistema, mas seu mentor e operador. De uma simples peça do jogo passou a ser dono de seu destino, do qual duvidara no início do filme e o fez abrir-se a consciência para o grande enigma de Sócrates, conheça-te a ti mesmo.

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