por Tiago Lacerda
Este conjunto de
reflexões acerca do sofrimento tem uma raiz muito certa, a vida. Esta sempre
entendida como algo que não se pode contrariar, ou que deve-se afastar o
sofrimento e dor a todo custo pois a beleza de estar aqui neste mundo é viver
os prazeres e fugir o máximo da dor. Toda esta forma de perceber a vida faz
parte de nossa educação. E com a citação que terminei a parte I, inicio esta: "paulatinamente
esclareceu-se para mim, a mais comum deficiência de nosso tipo de formação e
educação: ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina, a suportar a
solidão". Esta citação encontra-se no livro Aurora de Nietzsche no parágrafo
443. Eu gostaria de refletir sobre isto neste pequeno texto. Vivemos o que
aprendemos. Somos fruto do nosso processo de socialização e este é fruto de
valores sociais, morais estabelecidos em nossa época e sociedade. Aprender que
com a solidão e o sofrimento podemos ser mais fortes não soa bem, ou melhor,
soa com um tom de cristianismo, de evangelização que quer justificar a dor para
uma conduta direcionada à vida possível (segundo o cristianismo) eterna. Mas aqui
gostaria de deixar de lado esta reflexão religiosa ao passo que penso até que
ponto conseguimos fazer isso. O sofrimento, a dor, longe de ser uma
justificação religiosa para a vida e desgraças vividas é uma oportunidade de
crescer, de emitir um som diferente. Como assim? Para o filósofo Heráclito de
Éfeso (séc. VI – V a.C.) o devir ao qual tudo está destinado caracteriza-se
pela passagem de um contrário ao outro: as coisas quentes se resfriam, as
úmidas secam, as secas tornam-se úmidas, o jovem envelhece e o vivo morre. Há,
portanto, uma guerra perpétua entre os contrários.