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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sentindo a dor do outro... Sentindo a minha própria dor.


Blogagem Coletiva Espiritual IX - Espiritual-idade - Blog da Rosélia

Para partilhar um pouco sobre como sentir o outro, suas dores, vicissitudes e desafios, não encontrei melhor passagem bíblica do que a do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). A frase que destaco de toda esta cena é "Vai e faça a mesma coisa!". A nossa dor não pode estar desconectada da dor da humanidade; não é bom que sejamos indiferentes à dor do nosso próximo. Esta deve ser a nossa própria dor, a nossa própria vontade de cuidar do nosso coração. A grande proposta do Evangelho para nos ajudar neste embate se resume em uma palavra, amor. Quem ama consegue enxergar no outro a Deus e a si mesmo. Em Cristo somos um único corpo onde Ele é a cabeça. Pode faltar um braço que o corpo ainda se mantém vivo, pode um perna estar paralisada que a vida se mantém, mas de uma forma enfraquecida. Quanto mais deixamos de cuidar do nosso próximo, que pode ser qualquer pessoa do mundo, deixamos de cuidar de nós mesmos que fazemos parte deste mesmo corpo. Devemos sempre ter esta visão holística da nossa participação de um único corpo, de um cuidado e atenção que quando aplicado ao outro, ao desconhecido, produzimos um crescimento mútuo no amor e na vontade de Deus. O princípio fundamento do Amor Criador é o que nos orienta a perceber que somos cuidados e precisamos legar este cuidado e amor aos mais necessidados que estão em nosso meio.

domingo, 4 de julho de 2010

Escuta X Espiritualidade


Blogagem Coletiva VIII - Espiritual-Idade - Blog da Rosélia

Saber ouvir é saber silenciar-se para ajudar o outro a dizer aquilo que ele precisa colocar para fora. É saber dar atenção ao outro que busca em Deus forças para ser uma pessoa autêntica. Mas saber ouvir é silenciar interior e exteriormente para ouvir a Deus que nos ensina o melhor caminho a trilhar. Esta semana estou em retiro espiritual aqui em Itaicí-SP. É um momento doloroso de calar, silenciar até o último suspiro para ouvir os suspiros de Deus, que para mim vêm por sensações, moções que posso sentir e contemplar junto com a natureza, com as pessoas, com as situações que vivo. O mundo é ruidoso, não nos dá oportunidade de silenciar, tampouco de escutar. No barulho ouvimos sempre alguma coisa distorcida, não compreendemos bem as coisas, por isso, às vezes gritamos com nosso interlocutor porque não compreendemos o que ele disse, por estarmos envoltos nos ruídos que nos cercam. Com Deus não precisamos gritar, mas se não aprendermos a escutá-lo da forma que Ele se manifesta, não vamos adiante, podemos até gritar, Ele nos ouvirá, mas nós não teremos retorno, não porque Ele não o faz, mas porque não sabemos como fazer isso bem. Queremos um Deus útil, que satisfaz nossas necessidades, nosso Deus não é assim. Neste sentido podemos fazer uma teologia apofática, dizer o que Ele não é. Mas podemos por outro lado dar ênfase naquilo que já sabemos que é, e Deus se resume em uma única palavra, AMOR. Na primeira carta de São João 4, 8, encontramos esta verdade. E o amor não nos exclui, não nos abandona e não deixa de ouvir-nos. Somos nós instrumentos que necessitam de uma afinação diária para tocar na nota certa, uma nota que possa ser ouvida universalmente, uma nota LÁ é a mesma em toda parte do mundo, música é matemática. Escutar é a matemática que nos leva a uma vida melhor. Quem sabe escutar, além de errar menos, vive muito melhor. E o que fazer com o que escutamos? Discernir. Santo Inácio de Loyola nos ensina que antes de qualquer decisão ou discernimento é preciso um silêncio absoluto, porque assim podemos certamente saber se o que escutamos vem de Deus ou de algum espírito que nos desorienta e nos leva por outros caminhos que não os de Deus.
A espiritualidade da escuta é simplesmente saber deixar que os nossos sentidos se calem, não para ficarem inertes e inoperantes, mas é um calar para uma afinação teleológica, com uma finalidade de agir melhor de forma mais simples dentro de nós mesmos e no mundo.

domingo, 27 de junho de 2010

Partilha de Vida X Espiritualidade



Na semana passada eu havia postado uma mensagem sobre o diálogo. E como foi propícia para a minha vida e relacionamentos interpessoais! Hoje gostaria de falar um pouco sobre a nossa partilha de vida. Partilhar é demonstrar confiança não só no outro, mas em Deus que nos possibilita o outro para que partilhemos de nós mesmos e nos descobrimos nesta alteridade, pois o outro me diz muito quem sou.

Quando me propus a escrever sobre este tema, a primeira coisa que pensei foi em uma ilha. Uma extensão de terra firme cercada por águas em toda a sua periferia. Muitas pessoas sonham em passar algum tempo numa ilha, acham exuberante sua beleza, mas seu acesso não é fácil. É preciso no mínimo de uma embarcação para chegar lá. Dependendo da distância alguns mais fortes e treinados podem ir a nado. Mas não são todos que conseguirão. Neste caminho existem os perigos do mar, as vicissitudes do trajeto. Mas por que eu falo sobre isto? Por que eu analogicamente comparo nossa partilha de vida a uma ilha? Simplesmente porque algumas pessoas não conseguem partilhar, não têm forças para falar de si mesmas e por seu isolamento ou incomunicabilidade, se assemelham a uma ilha. E assim passam a se esta extensão de terra firme, mas que não dá acesso fácil aos outros. E quando alguém deseja se aproximar precisa de uma embarcação que nem se sabe se esta conseguirá chegar à ilha. Nadando sem se cogita tal façanha, o mar é bravio e toda a beleza que a ilha apresenta se esvai com seu fechamento. Daí que alguns querem entrar a força, desbravar as barreiras e forçar passagem, mas o que estes encontram? Nada. Simplesmente uma ilha vazia. Pessoas vazias que por não se abrirem aos outros se tornam totalmente vazios e caem numa angústia. Sempre acreditei e ainda o faço que todas as pessoas por mais simples que pareçam sempre têm algo a partilhar. E aqui mora um paradoxo, os mais simples e que acham que nada podem é que escondem grandes tesouros, daí o prazer de entrar nesta ilha, na vida do outro não para invadir seu espaço, mas para ajudá-lo a descobrir onde está enterrado este tesouro que precisa deixar seu brilho luzir ao mundo.

Todo este trajeto é um caminho de espiritualidade. Só com a ajuda de Deus é que conseguimos compartilhar nossa vida e da vida do outro sem agressão e logrando uma ajuda mútua. Se o outro se apresentar uma ilha, não tenha pressa de chegar lá. Tudo tem um momento certo, se há alguma embarcação, vá sem a intenção de descobrir o tesouro, isto deve ser um convite do outro que com o tempo sentirá a necessidade de buscá-lo também e sabendo que em nós encontrou um amigo, saberá também quem convidar para este grande dia, o dia de partilhar!

domingo, 20 de junho de 2010

Diálogo X Espiritualidade




Blogagem Coletiva VI - Espiritual-Idade
Vivemos num mundo das conexões. Nunca se viu quantidade de tecnologia e avanços que se espraiam sobre as civilizações. A rapidez com que podemos nos comunicar com o mundo é cada dia mais assustadora, mas por outro lado nos tornamos seres humanos que menos se comunicam conosco mesmo, tampouco com o outro ou com Deus. Deus é desmistificado nesta era, não tem sentido ser um religioso enquanto que o máximo do prazer está em aderir a tudo quanto outrora era proibido, mas que agora muitas pessoas buscam num espírito dionisíaco. Mas até onde vai este homem que se desfragmenta a cada dia? Por que não se diz tanto de interior, mas de subjetividade com conotações de vontades individuais e busca de auto-ajuda? O homem teme conhecer a si próprio, quanto mais o outro que cerca e que tem muito a revelar-lhe sobre sua própria existência. O outro é importante para mim porque me ajuda a compreender aspectos da revelação que eu não percebo. Mas como falar em revelação e transcendência se não há esforços para sequer dialogar com quem está ao nosso lado? Usamos das pessoas para nos satisfazerem, e não para nos auxiliar a compreender a nós mesmos e a Deus. Este liame entre eu o outro e Deus é o tripé para uma vida equilibrada e harmônica. Quando mais nos cedermos às tecnologias em detrimento do outro, o nosso diálogo se esvai e com ele nossa espiritualidade que nos possibilita ver no outro a face de Deus e o reflexo de quem sou. Buscar o outro é buscar conhecer-me a mim mesmo, pois na alteridade o meu rosto se revela e esta relação revela a Deus que se faz presente na humanidade. Ter lógica no diálogo é saber captar no outro os aspectos que me faltam para uma compreensão da dinâmica paradoxal da vida entre eu, o outro e Deus.

domingo, 6 de junho de 2010

Acolhida e Espiritualidade


Blogagem Coletiva IV - Espiritual-idade

Esta semana se faz propício partilhar sobre a acolhida, nossa participação na integração das pessoas que convivem conosco e das que passam pela nossa vida. Acolher é crescer, aprender, saber amar...

Acolhida e Espiritualidade
por Tiago Lacerda

Se tiveres a coragem de abrir os olhos,
E a força que te permita olhar para o outro,
Tirar de si mesmo o foco e se abrir ao novo,
Encontrarás um caminho...


Se por este caminho andares,
Com atenção a cada detalhe e pessoa,
Buscando o melhor onde não se acreditava,
E creditando a quem já desfalecera,
Encontrarás abertura...



Com a disponibilidade em ver onde não há,
Em ouvir o que ninguém ainda disse,
Escutando o som ainda inaudível,
Encontrarás acolhida...

Encontrarás um caminho,
Que te darás abertura,
Não para ensinar e curar,
Mas para aprender e acolher,
Isto difere em muito do fechamento.

domingo, 30 de maio de 2010

Tempo e Espiritualidade


Blogagem Coletiva III - Espiritual-Idade


A experiência de poder perceber que o tempo é para nós um momento de graça é simplesmente um convite a reconhcer a bondade de Deus em nos presentear com tal sabedoria e compreensão. Da mesma forma convido a todos para que acessem os outros blogs e confiram a riqueza da diversidade.
Tempo e Espiritualidade
por Tiago Lacerda

Com o tempo temos a ideia de presente, passado e futuro. Na filosofia existencialista de Heidegger o passado pode ser entendido como ponto de partida ou fundamento das possibilidades porvindouras, e o futuro como possibilidade de conservação ou mudança, do passado, em limites determináveis a cada vez. Temos no futuro apenas possibilidades, estas podem ser direcionadas a alguma mudança, ou não. A sociedade hodierna está repleta de pessoas que não se contentam com sua própria existência, estão em algum tempo, vivendo alguma vida, mas longe do presente. Isto pode causar desespero, angústia nas pessoas, que no lugar de ter o futuro como possibilidade de mudar ou conservar algo, fazem dele um momento atual, o que resulta em frustrações quando não alcançados os objetivos traçados. Da mesma forma pessoas que vivem no passado precisam dar lugar ao presente para que possam respirar com mais liberdade; ficar preso em fatos que se foram e que poderiam ter sido diferentes é sofrer sem possibilidade de mudar. O passado é um ponto de partida, dele visualizamos as possibilidades do futuro e fazemos o melhor para que no presente estas possam ser estruturadas de forma que sejam possíveis suas realizações. No evangelho encontramos algumas pistas, orientações para percebermos a lógica de Deus e podermos viver de acordo com seus ensinamentos, iluminações, buscando não só viver o presente, mas fazer dele oportunidade e possibilidade de mudança para outros que não tem as mesmas oportunidades que gozamos muitas vezes. No início do texto vimos o futuro como possibilidade, porque pelo passado posso vislumbrá-lo; a partir do evangelho vamos compreender o presente como tal, pois este é o momento em que estamos e enquanto muitos querem salvar sua vida alcançando tudo, buscando o máximo que podem e querendo ser tudo, recebemos um chamado para perder a nossa vida, ser o essencial e buscar a um princípio que fundamenta a nossa existência (Cf. Lc 9, 24). É um paradoxo que nos deixa confusos, mas perder a vida é deixar-se ser moldado e ser instrumento de apoio para quem nada possui, os pobres. Os pobres aqui são todos aqueles que sofrem e são excluídos de alguma forma. São aqueles que choram, mas suas lágrimas se transformarão em alegrias, serão consolados (Cf. Mt 5, 4), porque este clamor chega a Deus, e ele envia a cada um de nós para ser estes instrumentos de seu amor. É preciso perder a vida sim na lógica do evangelho, perder tempo com Deus, para ganhar tempo em Deus. Porque quem quiser ser o primeiro, este deve dar o exemplo, sendo o último, o que serve a todos (Cf. Mc 9,35). Não é se rebaixar para seguir uma regra, mas se libertar de tudo o que a sociedade impõe como princípio para uma felicidade que parece não ser possível e que levam muitos a se desgastarem. E finalizo com a citação de Atos dos Apóstolos em que nos ensina que há maior alegria em dar, que receber (Cf. Atos 20, 35). Quando encontramos este caminho norteador no serviço a Deus e ao próximo, encontramos o caminho que nos leva a conhecer o nosso próprio coração. Por isso, gastar tempo com os que precisam é ao mesmo tempo cuidar de nós mesmos.

domingo, 23 de maio de 2010

Corpo x Alma e Espiritualidade



                            Blogagem Coletiva II - Espiritual-Idade - Blog da Rosélia.
Veja que na semana passada eu coloquei a imagem de uma rocha em formação pela natureza. Hoje a imagem é feita de pedras organizadas pelo homem. Convido a todos a perceberem a sutileza desta imagem relacionada com o tema a ser tratado. E depois se possível acessar os textos produzidos a partir do blog acima para valorizar a diversidade de ideias e espiritualidades. Rosélia, obrigado por mais um tema interessante, acredito que teremos ao final desta blogagem coletiva um grande tesouro, um acerto de textos que poderemos partilhar com amigos e leitores. O mais interessante é que cada blog tem um estilo diferente, o que enriquece o evento. Boa leitura a todos!

Corpo x Alma e Espiritualidade

Não é tão simples assim dizer sobre esta dualidade, é desafiante, mas nos leva a associar à nossa fé e nossa capacidade de conciliar duas realidades num só ser. Eu gosto muito da frase que Santo Agostinho escreveu logo no livro Primeiro das Confissões: “[...] o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”. Esta frase sintetiza todo o livro, a saudade de Deus é inerente ao homem. Agostinho bebe da fonte platônica, dual, mas, ao contrário de Platão, as ideias em Agostinho originam-se de Deus. Este esclarece-nos a inteligência, e é pelos sentidos e pela razão que alma aprende as noções dos objetos, das ideias, mas sempre auxiliados pelo Criador em que se localiza a verdade imutável. No texto Natureza e Espiritualidade eu já havia mencionado sobre a diferença entre os homens e os demais seres vivos que é o pensamento, a razão que nos permite mais que outros animais. Somos animais sim, como dizia Aristóteles, e racionais, estamos nesta categoria, mas neste texto de hoje praticante dando continuidade posso dizer que um outro filósofo também contribuiu muito para esta reflexão. O homem não é para Descartes um puro espírito racional, mas a união muito estreita entre uma alma e um corpo. Assim a natureza pode ser conhecida pelo homem porque ela é apenas um corpo sem nada de misterioso enquanto o homem pode ser um sujeito conhecedor porque ele é só pensamento, que segundo Descartes também não tem nada de misterioso, é uma simples consciência de si e das coisas. Esta razão, pensamento, pode nos levar a uma busca de equilíbrio para o encontro com Deus. Um equilíbrio não só do nosso pensamento e ideias, mas com o corpo. Este não é um cárcere da alma, mas é um só ser e nem um é mais importante que o outro. Se dermos mais valor a alma, desprezamos o corpo e não encontramos equilíbrio. Da mesma forma se o cuidado maior for para com o corpo a nossa alma adoece, o foco fica desnivelado e nos prendemos ao materialismo. A espiritualidade nos ajuda a conciliar estas duas realidades como um só ser que precisa ser cuidado de forma integral para como disse Agostinho repousar em Deus. Este repousar é encontrar abrigo, respostas em meio a dúvidas existenciais e de fé. Caminhamos bem com as duas pernas, e assim podemos nos equilibrar, e mesmo quando isto nos falta encontramos meios para continuar sem desistir. Dentro de nós há todo um movimento, o corpo não consegue perceber por si só, a alma é mais perspicaz para isto, mas não consegue se não estiver no ritmo para tal. Assim em unidade e equilíbrio se constrói um ser capaz de perceber que no mundo como já foi dito não há nada de misterioso, nem no corpo, nem na alma, mas há algo de secreto que pode ser conhecido, sentido e que é capaz de calar toda inquietação do nosso coração. A dança sem ritmo não encanta, e o ritmo sem nada para ser atribuído é em vazio. O interessante é permitir que o ritmo de nossa alma, em equilíbrio, leve o corpo a uma dança que não só encanta, mas descobre, desvela, uma espiritualidade que há muito foi esquecida.

domingo, 16 de maio de 2010

Natureza e Espiritualidade


Esta semana recebi um convite de uma grande amiga, a Rosélia, para escrever sobre determinados temas que serão propostos de antemão para uma Blogagem Coletiva Espiritual. Como funciona? Fácil, a partir do blog Orvalho do Céu saberemos o tema proposto e seus seguidores, leitores e amigos que estarão participando desta blogagem postarão em seus respectivos blogs sobre este tema, como uma corrente de espiritualidade e amor. Achei a proposta interessante, nos estimula a escrever e refletir também um pouco sobre nossa fé. O primeiro tema é NATUREZA E ESPIRITUALIDADE. Convido a todos que acessem o blog Orvalho do Céu e veja referências aos outros textos que foram escritos sobre este mesmo tema. Boa leitura a todos!

NATUREZA E ESPIRITUALIDADE

por Tiago Lacerda

A Natureza sempre me leva a pensar algo que está em movimento, algo que está vivo. É possível não percebermos que diante deste mundo em que estamos as coisas se movem. Não percebemos porque pensamos demasiadamente em muitas outras coisas, assim, não paramos para observar coisas simples como a natureza, a nossa vida interior e a nossa busca de Deus. Quando pensava uma imagem para colocar neste texto, tentava imaginar várias paisagens naturais, com muito verde ou com o mar, mas quando eu percebi o formato destas rochas, me deparei com um questionamento que me levou a pensar nas minúcias do mundo em minha volta que passam despercebidas. Como eu disse, o mundo está vivo, a natureza se move e nesta dinâmica ela constrói cenários que nos deixam estupefatos. Mas o que podemos fazer além de admirar tudo isso? Podemos deixar-nos envolver nesta dinâmica para compreendermos a nossa própria vida. Como?! Nós não somos seres desligado deste grande sistema vivo. Podemos pensar, refletir, saber a nossa função neste mundo e buscar a felicidade, as rochas, não. Mas o que temos em comum? Simplesmente a vida, o movimento. Uma rocha com formatos ígneos ou pela insistência das ondas do mar em tocá-las e moldá-las não pode saber o caminho da felicidade, mas simplesmente é moldada, não escolhe. O criador nos permite escolher caminhos, mas nem sempre percorremos os mais fáceis. Parece uma sina em sofrer ou viver em questionamentos. O que precisamos saber não nos é dado da noite para o dia. É preciso cultivar uma resposta, que é árdua, leva tempo. O problema do mundo hoje é que todos querem respostas imediatas. A natureza leva dezenas, centenas e até milhares de anos para chegar a uma forma que nunca se estagnará na mesma, mas sempre haverá mudanças. Nós insistimos em chegar a um posto, status ou sonho fixo. Isto é muito pouco, se a vida nos permite sempre uma mudança, esta deve ser aproveitada, sempre é possível ser melhor do que somos ou estamos. E se uma doença, ou dificuldade nos aparecer como tropeço, não culpemos a Deus; estamos em movimento, hoje temos saúde, amanhã ela poderá se esvair, mas quando compreendemos que da forma em que estamos poderemos ser sempre um ponto para um passo adiante, a doença e males não serão capazes de nos barrar diante de tantas maravilhas deste mundo. Espiritualidade é saber ver a Deus como um apoio e amor, não como simplesmente alguém que poda, mas que planta e rega com cuidado para que esta planta dê frutos e tenha vida em abundância. Mas não é admitido ter medo de se lançar, o tempo e as ondas sempre existirão, no começo parecerão só nos tirar a jovialidade e força, mas depois poderemos perceber que tudo não passava gotas de força interior, não percebíamos por ser sempre em gotas, mas elas nunca deixam de estilar e acontecem simplesmente porque dizemos um sim, uma escolha à vida. A natureza é moldada sem escolher, o tempo nos faz o mesmo, mas o que fazemos com estas mudanças é que nos lança além daquilo que está escrito na vida natural, nos une ao nosso transcendente e nos mostra caminhos de paz.

domingo, 25 de abril de 2010

Liberdade e Responsabilidade em Sartre


Gosto de conversar com as pessoas. Gosto de ouvir o que elas têm a dizer, de dar atenção e respondê-las, se ao meu alcance. Deixo claro que não tenho as respostas, mas posso ajudá-las a encontrar mais perguntas que de certa forma mostram o caminho não das respostas que querem, mas dos limites que temos em querer saber mais do que está ao nosso alcance, ao menos em alguns instantes, ou nos mais dolorosos e angustiantes. Nossa vida é de escolhas, e estas não são fáceis de manter. Há desafios, renúncias. Temos uma gama de opções no mundo, mas não podemos abraçar a todas, senão cairemos numa anarquia. É preciso um rumo certo, mas qual é o certo? Eu não saberia dizer se um só caminho é certo ou bom, ou melhor, eu não posso dizer isto. Cada um constrói o seu caminho. Sartre em O Existencialismo é um Humanismo descreve que “escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, (porque tal “mal” escolhido seria sempre um “bem”, exatamente porque se escolheu) o que escolhemos é sempre um bem. E nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos”. Isto aproxima Sartre da moral kantiana. Kant quer fazer uma filosofia da moralidade e reduzir tudo a isto. Para ser feliz, honesto... é preciso da moral. Essa moral sempre parte do homem livre, autônomo. Ele diz que a razão tem uma autonomia. O sujeito executa a lei que ele mesmo elabora e a pensa. Esta lei tem um caráter universal. Após isto o sujeito deve esforçar-se para cumprir a lei e levá-la até o fim. Assim o que nos propomos ser e fazer deveria ter um caráter universal; outros, ou melhor, a humanidade inteira poderia fazê-lo também. O que nos remete a uma responsabilidade com o que escolhermos fazer e ser. “Há muita gente que não vive em ansiedade, mas é nossa convicção que esses tais disfarçam a sua angústia, que a evitam [...] ora, a verdade é que devemos perguntar-nos sempre: que aconteceria se toda gente fizesse o mesmo?, e não podemos fugir a este pensamento inquietante a não ser por uma espécie de má-fé” (SARTRE). O que eu quero com esta reflexão é propor um pensamento que inclui. Não dar de ombros para o sofrimento alheio, que também é nosso, mas escolher dentre tantas leis morais, aquela que pode nos ajudar a partilhar com a humanidade a responsabilidade recíproca na sociedade em que estamos. O sofrimento de uma só pessoa no mundo, deveria ser capaz de fazer-nos deixar tudo para acolher aquele que precisa no momento de nossa compreensão, amizade e capacidade de amar, porque a nossa vida é um caminhar para o mistério e não adianta pensarmos ser superior a ninguém, mas sim co-responsáveis.

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril S. A. Cultural,1973. p.13. (Col. Pensadores)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pachola (poema de Tiago Eurico de Lacerda)

por Tiago Eurico de Lacerda

Pachola, pachola por que te entristeceste?
Em ti, nada mais de ti cabia.
Fora de ti, ninguém sabia.
Quiçá por isto morreste, e a ti não te devolveste.

Pachola, pachola, ressuscita-te!
De ti permita sair-te.
fora de ti, aos outros conhecer-te.
Se esvazie para encher-te.

Pachola, pachola acordaste.
Agora em ti há de ti.
Fora de ti há rumores.
E na alteridade soma amores.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Partir (poema de Tiago Eurico de Lacerda)




por Tiago Eurico de Lacerda

Esta noite eu fiz uma viagem e passei por muitas estradas, parti.
Parti para um lugar onde ninguém poderia me encontrar.
Como viajei? Não posso dizer, talvez eu nem saiba.
O que sei é que foi longa, mas em momento algum me cansei.
No meu caminho partido, pois gostaria de ir a outros nortes,
Vi muitos partindo também.
Vi mães, pais, filhos, vi amantes, enfim diamantes,
Cada um com seu destino, uns felizes, outros não, e os misteriosos.
Quando a gente parte, não quer mais voltar,
É como um bolo vistoso que se ganha um pedaço e não se quer rejeitar,
Quer partir outro e partindo quer partir para onde nunca alguém partiu.
Ainda o faço, não com o bolo, mas com meus desejos, sonhos.
Vi amigos, lugares, mas não permaneci, caminhei.
Tudo é passageiro, tudo tem um fim e por isso não me envergonhei.
Sempre é necessário começar, e para isto é preciso partir,
Desejos , sonhos, estradas, bolos, amigos, saudades, enfim.
Cheguei em algum fim, posso sentir,
O que me deu esta consciência é a brisa da manhã, como?
Fui tocado por ela ao descansar em minha poltrona, mas ela me despertou.
Este fim chegou para começar tantos outros caminhos de início e fim.
Mas o fim verdadeiro eu só saberei se de outra forma eu partir.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Seja Humano



por Tiago Eurico de Lacerda

A dor que perfura nosso peito,
a dor que nos asfixia quando vemos só o mau e o mal no mundo,
esta dor que oprime, nos isola, nos permite lágrimas amargas,
que nos faz órfãos, nos adoece, não nos inclui,
pode ser transformada!
O coração é uma terra sensível, precisa de alimento certo para a vida.
não o alimentemos com a dor provocada de nosso egoísmo,
ele não merece ser tocado pelo mal estar desse mundo,
demos ao nosso coração possibilidades, não amarguras.
O maior perdão para este ano é o de si próprio,
é reconhecer que nossa humanidade é frágil, erra, chora,
não pensemos que somos um anjo, ou outro ser que alguns tentam nos impor
para que oprimidos não vivamos o nosso ser humano.
Ser humano é ser suscetível a errar,
é perceber que não podemos tudo, mesmo diante de tantas possibilidades.
Quem quer abraçar tudo em sua vida se enche de um vazio,
adoece.
quem quer resolver tudo em sua vida, também se esvazia,
esmorece.
E quem acha que tudo pode, não sabe onde está,
se frustra.
Não vamos olhar para o outro e querer ver a perfeição,
Deixemos cair as máscaras e estereótipos sobrenaturais,
elas não nos pertencem, são lacunas para a dor,
nos enganam e não têm sabor.
O sabor não se encontra em pessoas, nem em coisas desse mundo,
o sabor está dentro de nós.
É preciso um mergulho profundo dentro de nós mesmos para encontrarmos aquele nosso eu perdido e levá-lo à superfície.
Mas quando o encontrarmos, não nos assustemos,
somos nós mesmos e as vezes podemos não gostar do nosso verdadeiro eu.
Mas quando nos tornamos cônscios e amamos este eu sem máscaras, a dor se vai,
o riso sobressai, e as cores se tornam mais vivas.
Viver como um ser humano é viver em busca desse humano que muitas vezes tentamos esconder. Este, quando encontrado não nos exime de lágrimas, dor, vergonha e frustação,
mas com ele por perto tudo se torna mas claro e menos complicado.
Onde se esconde o meu eu, o nosso eu, o eu do mundo?

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