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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O caminho em partes (poema/texto de Tiago Eurico de Lacerda)


                                                                                                        por Tiago Eurico de Lacerda


PARTE I – O DESABAFO, AS TREVAS


Eu olho para o céu e contemplo as estrelas, é noite!
É noite não porque o dia se foi, mas porque a escuridão me é palpável.
Eu tento com minhas forças lutar para ser visto, reconhecido,
Mas não, os outros não me darão crédito, sou limitado, algo em mim, falta.
Me dizem que não posso, isso chega a doer em meu peito,
Alguns pela minha relativa incapacidade nem me veem.
São indiferentes, a dor não lhes tocam, não querem saber.

Em meio a escuridão caminho e tropeço em minhas próprias forças,
Quando penso que vão me ajudar, algumas portas começam a se fechar.
O que posso fazer? Com quem posso contar? Minha família?
Ah, se minha família soubesse o que se passa dentro deste meu coração!
Me abraçariam, chorariam comigo e me amariam muito mais.
E se esta porta que está mais perto de mim não se abre totalmente,
Como posso contar com aqueles que nem meus parentes são?

Bem dizia Shakespeare que o tempo é algo que não volta atrás.
Mas para que eu voltaria, para sofrer outra vez, prolongar o frio.
Não, não pode ser verdade que tudo aconteceria da mesma forma,
Eu teria abraçado mais e buscado dar mais atenção a todos,
E se alguém fosse me procurar necessitado? Claro que ajudaria!
Não sou uma pobre pessoa que mendiga amor, mas tento compartilhá-lo
Tento estendê-lo e desejo que ele seja mútuo.

PARTE II – RECONHECER, CONFIAR

Eu reconheço que o pessimismo não é a chave central,
Que reclamar e lamuriar não me fará ver a luz,
Basta saber que ela existe e que seus raios podem chegar a mim.
As vezes eu realmente exagero nas minhas exigências,
O amor como eu pensava realmente deve ser mútuo, deve ajudar,
Não adianta eu dizer que o farei e só esperar o outro.
O meu não reconhecimento pode atrapalhar tudo.

É fácil sempre colocar a culpa nos outros, e dizer que eu não.
É fácil me esquivar das responsabilidades que também são confiadas a mim.
Eu devo abraçar, mas este abraço deve ser mais do que o externo,
Deve mostrar que sou alguém que tem sentimentos, que vive.
Eu já abracei muito, mas tudo por uma convenção, onde eu estava?
Os meus limites me tornam especial eu sei, mas não estou morto.
Posso trabalhar, posso sorrir e passear, louvar e me divertir.

É verdade que se eu voltasse no tempo, mudaria muito.
Mas eu não teria aprendido, não teria passado por...
Por tantas coisas que meu peito não pode falar, enfim vivi.
Essa é uma oportunidade da qual devo agradecer, devo valorizar.
Reconheço que a sociedade exclui, mas onde está o meu coração?
Se humilde nada pode abalá-lo, quanta força escondida.
Eu sou amado e posso amar, que conclusão sem igual.


PARTE III – A SABEDORIA, PARTILHAR

Quero a luz e não as trevas, já posso senti algo novo.
Que minha boca proclame sempre as graças e a saúde.
Ah sim, esta eu quero em abundância, já sou melhor.
Minhas limitações são degraus, que ajudam não só a mim,
Mas a todos que comigo caminham de mãos dadas.
É verdade. De mãos dadas somos mais fortes, quanto calor!
Um calor que afugenta o frio e traz a paz, um calor que inclui.

Se pensavam que por minha frágil saúde eu não podia nada,
Agora é que vou mostrar que eu é que vou ajudar a incluir.
Como a minha família deve lidar com isso? Dando-me as mãos.
Sozinho eu não tenho forças nem sequer para caminhar,
Mas com suas mãos, posso trabalhar e com mais alguns corações, amar.
Não só a nós mesmos, mas a todos que precisam de apoio
Eu posso e já supero os meus desafios, não foi fácil os primeiros passos.

Para quê voltar no tempo se eu posso fazer hoje um mundo melhor.
O ontem e o amanha não nos pertencem, deixá-los-ei em paz.
É no agora que devo me conscientizar, que devo partilhar o que tenho,
Que preciso também ser luz, outrora tudo era trevas, agora vejo as portas,
Não se abrindo, já estão abertas. Tanto tempo recusei aceitar tudo isso,
Lutei contra doenças e preconceitos, meu Deus tudo isso fazia parte!
E agora o tratamento é doce, as pessoas são como sempre sonhei.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Onde o Supremo bem se esconde? (poema de Tiago Eurico de Lacerda)

Onde o Supremo bem se esconde?

por Tiago Eurico de Lacerda

Quem somos nós? O que sabemos?
Quando sabemos, já não o mais.
Quando pensamos que é, nos deparamos com o nada!
Se ele não é, como podemos nos deparar com ele?

Para existir não é necessário ser?
Mas o que é ser num mundo onde tudo é o ter?
Onde as riquezas, a honra e o poder, ficam esperando por mim e você.
Estes são caminhos que nos levam somente a esmorecer.

Busquemos aquilo que nos satisfaça!
Mas como posso intitular tal façanha?
O bem, a quem, a cem... a suprema felicidade?
Podemos encontrá-la, acredite!

Ela é um bem certo, e sua forma de percebê-la, incerta.
Há bens que são incertos e sabemos muito bem como lográ-los.
Se não sabemos o caminho, o quê nos impede buscá-lo?
O ser, o ter, o querer... qual infinitivo?

Não deixe que a angústia de estar diante do nada,
A angústia de estar diante, estonteante,
Seja a última palavra, o ponto final.
Lance mão de reticências.

Não se detenha em vírgulas e pontos finais,
O papel aceita o que nele se coloca,
Nossa existência aceita o que planejamos.
Planeje!


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Poço esquecido (poema de Tiago Eurico de Lacerda)



O poço esquecido

Por Tiago Eurico de Lacerda

Encontrei um lugar muito bom para pensar.
Aqui há um açude de cimento sem água, um tanque antigo.
Nele só há folhas secas das árvores que o ladeia.
E é em sua sombra que me refugio do sol.

Olho para um lado, campo.
Olho para o outro, serras.
Bem longe avisto os prédios do centro da cidade.
Aqui o vento traz paz, faz música
Tocando os galhos e suas folhas secas no fundo do tanque.

Enfim me encontro só, ou melhor, eu e o poço,
Mas sei que nós dois não estamos abandonados.
Ele me faz lembrar, pensar, rezar.
E eu quase me esqueço, era eu o poço e o vento.

Aprendi que opaco pode brilhar,
E o que hoje brilha, amanhã já não será.
Nesse tanque profundo e largo já houve esperança,
Que com suas águas se esgotaram,
E por seu estado, nada e ninguém o ajudou.

Hoje é um tanque qualquer,
Em lugar nenhum e sem provisão.
No passado foi a fonte da abundância,
Do doar-se, do servir.

Ele fez sua história, escreveu suas páginas,
Arrancou muitas lágrimas.
Ele passou pelo percurso natural da vida, ele veio e se foi,
Como uma semente que tem que morrer para dar frutos.
E seus frutos também passaram.

E mesmo assim queres saber se dele se lembram?
Deixe que a história conte seus próprios contos.
Que os pontos se lembrem e se esqueçam,
Mas que marquem as páginas escrita com a vida.

sábado, 29 de agosto de 2009

A força em mim (poema de Tiago Eurico de Lacerda)


A força em mim

Por Tiago Eurico de Lacerda

Me disseram que em mim há uma força,
que com ela posso lograr o mundo.
Mas se mal aplicada pode ser minha forca,
caminho para um abismo profundo.

Luto contra esse poder que quer me controlar,
quer ser heterônomo, quer me anular.
Mas eu vejo adiante, sei manobrar,
o faço com perspicácia, não a claudicar.

Nesse mundo todos querem ganhar,
se sofro iminente perigo de queda,
logo passarei a atacar.
Se não o faço, jogo armado será.

Para tudo tem um tempo,
não adianta apresar.
Ninguém morre antes da hora,
quando eu estou, ela não está.

O que aprisiona o homem é o medo,
E este mesmo poderá libertá-lo.
Quando os anos passarem mais cedo,
Paulatinamente verás que foi sinal para calá-lo.

Meu silêncio não tem preço, não o ponho a venda,
sou aquilo que muitos morreram anelando.
uma voz no deserto, um senda,
água que rega onde o tempo seguia secando.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cotidiano (poema de Tiago Eurico de Lacerda)


Cotidiano


Por Tiago Eurico de Lacerda


uma só dose é o bastante,
numa só taça há graça,
um só contato é fraco.
Se não há abertura, governante,
se se quer outros ares, praça,
se a dor é constante, chore.
Mas nunca deixe que seu palco desarme.
Se a madeira cair, outras virão.
Vinho bom, odre velho.
Vinho bom, odre novo.
Eu aqui e tudo de novo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Meus gritos se calam (poema de Tiago Eurico de Lacerda)



Meus gritos se calam 

poema de Tiago Eurico de Lacerda


Quero e não faço, mas não sei o porquê.
Desejos e vontades ocultos,
Vida cercada por vidas
Quantas miradas!

Vejo, mas imagino que poderia ser mais.
Olhos fechados para o além,
As miradas disfarçam-se
O desejo vem.

Penso em sair, mas o lar é cômodo.
Penso em agir, mas me foge às mãos.
Calo e descubro que são apenas assombrações
Que em meio às constelações não querem me ver brilhar.

Se brilho creio que foi demasiado.
Se no escuro, choro a luz.
Quantas bobeiras me invadem
Quantas se esvaem.

Escrevo para não falar.
Quando falo não sei pronunciar.
Faltam-me palavras concisas
Sou prolixo lançado ao ar.

Falo de mais sem abrir a boca
Nunca me foi necessário, por que agora?
Meu olhar, minha voz se comunicam
E meus gritos se inflamam.

E meus gritos se calam
E meus gritos me malham
E meus gritos me assolam
E meus gritos se esvaem.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sonhos (poema de Tiago Eurico de Lacerda)

Sonhos
por Tiago Eurico de Lacerda

Quem poderá dizer que nunca sonhou
Ou que algum dia não esperou
Um milagre, uma surpresa e apreendeu
Na fraqueza, delicadezas?

Me disseram que a vida é cruel
Mas o que seria a crueldade,
Senão, a falsa sensibilidade
Que querem impor ao réu?

Não sei se vi, nem se ouvi
Será que não sei? Não sei.
Querem tapar meus sentidos
E tirar-me...

E a liberdade, onde está?
Onde? Você a viu passar?
Diga-lhe que estou bem
Que estou bem? Sei...

O problema é que me olvido
De sempre especular os sonhos
Talvez seja a alteridade que me barre
Ou não. Mas devaneio.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tédio (poema de Tiago Eurico de Lacerda)



Tédio
por Tiago Eurico de Lacerda

Posso aborrecer sem desfalecer
Posso desfalecer pelo fastio
Mas não posso pelo tédio parir
Um desgosto por quem não pôde rir.

Se hoje eu rio
Amanhã cachoeira
Se não rio
O jocoso se torna poeira.

Se a poeira não me cegar
Vou por caminho seguro
Assim talvez possa chegar
E quiçá irei ficar.

Quiçá não faz história
Creio até que morreu
A viver na insegurança
Me apetece mais eu.

Eu não sei o caminho
E você não sabe chegar
Minha mochila é pesada
Devolve-me, pois vou me atirar.

O alvo é tédio, não importa
O tempo é curto, eu sei
A vida é assim e eu assado
E nós juntos outra vez.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Luz (poema de Tiago Eurico de Lacerda)


por Tiago Eurico de Lacerda

Luz que me ilumina e me leva a pensar,
pensar que não estou só, pensar que há um outro lugar,
onde eu possa me calar, onde eu possa chegar.

Às vezes olho para um lado e outro, escuridão,
ora começo a chorar, ora há uma luz a me consolar,
um consolo caloroso, um sinal de perdão,
uma luz notória invadindo o meu coração.

Eu tento imaginar de onde vem essa luz,
não sei explicar, ela é ofuscante e não posso olhar,
o que sei é que ela me aquece, me conduz.

Às vezes é muito difícil continuar,
mas quando percebo que não enxergo nada,
é porque olho de uma forma errada,
pois não é no horizonte que devo mirar,
talvez seja vertical o meu caminhar.

Essa luz só pode vir do alto,
pois ela tem muita energia, ela não se apaga,
mesmo que às vezes eu não a vejo.

Não é que ela tenha sumido, mas sim, eu fechei os meus olhos.
Essa luz só pode ser o Amor,
Essa luz só pode ser puro calor,
Essa luz é um borrador, de medos, inseguranças e escuridão.

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