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25 abril 2010

Liberdade e Responsabilidade em Sartre


Gosto de conversar com as pessoas. Gosto de ouvir o que elas têm a dizer, de dar atenção e respondê-las, se ao meu alcance. Deixo claro que não tenho as respostas, mas posso ajudá-las a encontrar mais perguntas que de certa forma mostram o caminho não das respostas que querem, mas dos limites que temos em querer saber mais do que está ao nosso alcance, ao menos em alguns instantes, ou nos mais dolorosos e angustiantes. Nossa vida é de escolhas, e estas não são fáceis de manter. Há desafios, renúncias. Temos uma gama de opções no mundo, mas não podemos abraçar a todas, senão cairemos numa anarquia. É preciso um rumo certo, mas qual é o certo? Eu não saberia dizer se um só caminho é certo ou bom, ou melhor, eu não posso dizer isto. Cada um constrói o seu caminho. Sartre em O Existencialismo é um Humanismo descreve que “escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, (porque tal “mal” escolhido seria sempre um “bem”, exatamente porque se escolheu) o que escolhemos é sempre um bem. E nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos”. Isto aproxima Sartre da moral kantiana. Kant quer fazer uma filosofia da moralidade e reduzir tudo a isto. Para ser feliz, honesto... é preciso da moral. Essa moral sempre parte do homem livre, autônomo. Ele diz que a razão tem uma autonomia. O sujeito executa a lei que ele mesmo elabora e a pensa. Esta lei tem um caráter universal. Após isto o sujeito deve esforçar-se para cumprir a lei e levá-la até o fim. Assim o que nos propomos ser e fazer deveria ter um caráter universal; outros, ou melhor, a humanidade inteira poderia fazê-lo também. O que nos remete a uma responsabilidade com o que escolhermos fazer e ser. “Há muita gente que não vive em ansiedade, mas é nossa convicção que esses tais disfarçam a sua angústia, que a evitam [...] ora, a verdade é que devemos perguntar-nos sempre: que aconteceria se toda gente fizesse o mesmo?, e não podemos fugir a este pensamento inquietante a não ser por uma espécie de má-fé” (SARTRE). O que eu quero com esta reflexão é propor um pensamento que inclui. Não dar de ombros para o sofrimento alheio, que também é nosso, mas escolher dentre tantas leis morais, aquela que pode nos ajudar a partilhar com a humanidade a responsabilidade recíproca na sociedade em que estamos. O sofrimento de uma só pessoa no mundo, deveria ser capaz de fazer-nos deixar tudo para acolher aquele que precisa no momento de nossa compreensão, amizade e capacidade de amar, porque a nossa vida é um caminhar para o mistério e não adianta pensarmos ser superior a ninguém, mas sim co-responsáveis.

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril S. A. Cultural,1973. p.13. (Col. Pensadores)

24 março 2010

Pachola (poema de Tiago Eurico de Lacerda)

por Tiago Eurico de Lacerda

Pachola, pachola por que te entristeceste?
Em ti, nada mais de ti cabia.
Fora de ti, ninguém sabia.
Quiçá por isto morreste, e a ti não te devolveste.

Pachola, pachola, ressuscita-te!
De ti permita sair-te.
fora de ti, aos outros conhecer-te.
Se esvazie para encher-te.

Pachola, pachola acordaste.
Agora em ti há de ti.
Fora de ti há rumores.
E na alteridade soma amores.

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