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27 julho 2018

Um aquariano ressignificando a sua escrita acadêmica dentro de seu próprio aquário: doutorado como terapia.




por Tiago Eurico de Lacerda
E-mail: tel.filosofia@gmail.com


Há muito tempo não alimentava o blog com meus textos, então decidi relatar uma experiência recente. Numa sessão de auto-hipnose com PNL (Programação Neurolinguística) eu coloquei o seguinte desafio: “gosto de escrever, mas no momento eu encontro um bloqueio”. Para contextualizar melhor meu desafio, estou terminando o meu doutorado e a escrita neste momento é o fruto visível que posso colher dos estudos feitos nos anos anteriores. Mas as coisas não funcionam simples assim. O “querer” não é suficiente para escrever uma tese, há uma vida nesse processo e todo o processo da escrita passa a ser também um processo terapêutico de descoberta de si. Voltando à minha descoberta, percebi que nas sessões terapêuticas utilizamos muito a imaginação e dialogamos conosco mesmo (ou melhor, com nosso inconsciente) o tempo inteiro para buscar respostas que sempre estiveram ali guardadas, mas, que no instante presente não sabemos utilizar tais recursos. Vou contar o processo da minha sessão (autossesão) e isso poderá colaborar com alguém no desenvolvimento de um autoconhecimento e superação dos desafios encontrados, serve até para destravar, fazer parir, um texto muito difícil de nascer. Eu poderia até intitular este texto como a maiêutica da liberdade, mas isso é outro “desafio” que talvez abordarei num outro texto.
A técnica que utilizei comigo é a “conversando com os sintomas”. Eu precisava descobrir o que estes “bloqueios” queriam me dizer, isso mesmo, me dispus a conversar com os meus “desafios”, assim, quem sabe, poderiam me ajudar a me compreender melhor. E nos instantes que eu tentei imaginar um objeto para simbolizar o meu desafio, isso faz parte do processo, eu vi imediatamente um grande aquário de vidro na minha frente. Eu olhava para o aquário e via que ele estava vazio e era transparente, mas em alguns instantes eu me via dentro deste aquário, sentado numa cadeira. Bom, olhando por fora eu via através do aquário, mas por dentro eu não conseguia ver o que estava por fora. Comecei a entender o porquê a imagem deste aquário simbolizava então os meus “bloqueios”. Dissociado da experiência eu fui ao teto para me ver de lá, e descobri uma coisa incrível, o aquário não tinha tampa! (Tive aquários em minha infância e eles tinham uma tampa, telhado para impedir que os peixes pulassem, acreditem, alguns ousavam!). E mesmo assim eu não tentava sair de lá, apesar de querer. E do teto, olhei para mim, deitado na cama, que era a posição em que eu estava para realizar esta técnica, e percebi que meu semblante era de alguém que naturalizou a prisão (o aquário turvo por dentro) e a romantizou de tal forma que a chamava de liberdade. Vou explicar melhor...
Fiz uma rápida analogia ao meu signo, aquário (não que eu siga o horóscopo, mas no intento de usufruir da imaginação ao máximo, pensei que seria interessante) e lembrei de algumas características que sempre ouvi falar sobre este signo: primeiro, porque pertencem ao grupo representado pelo elemento da natureza, ar. Segundo, que as características dos que pertencem a este grupo seriam: dinâmicos, sociáveis, pouco práticos, diplomáticos, artísticos, vendedores, geniais, intelectuais, podendo ser até frios em seu aspecto negativo. Mas o que isso tudo tem a ver? Aproveitei a imagem do aquário para pensar. Eu sempre imaginei que era livre, mas vivia pulando de um aquário para outro durante muito tempo da minha vida. Como assim? De dentro do aquário eu não via a realidade como ela era, pois, a vista era turva, mas de fora, todos me viam normalmente, inclusive alguns achavam que eu tinha as características supracitadas do meu signo, porque já me falaram, mas eu não achava isso.
Voltando à sessão... foi aí que eu desci do teto e “entrei” no aquário, neste instante eu era o próprio aquário olhando para o Tiago deitado na cama. Eu perguntava ao aquário porque ele era o meu bloqueio... e a resposta? Ele me disse: “não sou, ele (o Tiago) que pensa que sou o seu bloqueio”. Foi neste instante que o próprio aquário me mostrou o limite do vidro e me disse que nada impedia o Tiago de pular ou sair quando quiser, mas que ele estava acomodado. Perguntei também como ele (o aquário) poderia ajudar o Tiago? O que queria dele? E por que o Tiago sentia bloqueio para escrever? A resposta foi simplesmente assim: “ele cria os mundos, porque “não pode ver” o mundo como é daqui de dentro, assim, ele se refugia na escrita para elaborar mundos que fazem sentidos para ele, por isso vive de aquário em aquário, ressignificando o mundo para sobreviver constantemente. Consequentemente, ele bloqueia, sem necessidade, outras interpretações de mundo, porque criou em sua cabeça uma ideia de que o vidro o prende, ou que o vido é turvo de dentro para fora, mas isso não é verdade. ‘Turvo’ é a estratégia psicológica que ele criou para se livrar das críticas sobre o seu texto (o seu mundo). O medo da repreensão o fez não querer ver ou saber a reação da crítica (dos outros que estavam foram do de seu aquário), porque aprendeu um conceito errado de crítica na infância e ainda ouve os seus ecos”. Neste momento eu agradeci as palavras do aquário (meu insconsciente) e voltei ao teto, de lá a imagem do aquário havia mudado. Não era tão grande e de aspecto prisional como antes. Voltei ao Tiago que estava na cama e senti que algo havia mudado. Ao olhar, pela imaginação, para o aquário (seu bloqueio), ele estava pequeno, e cabia em suas mãos.
Ele poderia levá-lo para qualquer lugar e não foi preciso nenhuma estratégia mirabolante para pular ou quebrar os vidros, até mesmo porque o “aquário” faz parte da experiência de vida do Tiago, e é o objeto que o lembra que ele pode a todo instante transitar mundos diferentes e se expressar sem o medo da crítica alheia. E mais do que não temer à crítica, é esperar recebê-la (aguardar, no sentido de sabedoria), não no significado das que recebia na infância, mas na perspectiva de que são necessárias para crescer e melhorar. Agora os elogios lhe parecem mais turvos que a própria crítica e contempla as possibilidades de prosperar nas adversidades como parte da pluralidade de pensamento e crenças.
Mesmo que agora, olhando por dentro, a imagem do mundo e dos outros não esteja turva, o medo da adversidade se transforma em possibilidades. Escrever para não se confrontar é o mesmo que não se permitir a pensar, é o mesmo que se aninhar ao sistema e reproduzir e, não viver. Assim, a conversa com o meu “sintoma” me fez perceber que não é cortando o problema que resolvemos a questão, mas compreendendo as versões, entendendo o que o “desafio” quer de nós, pois nenhum desafio é eterno. Se ele vem, é porque quer comunicar algo, sabendo disso, podemos progredir. Descobri que nossa liberdade não acontece sem passar pela angústia. Lembro de Sartre falando das nossas escolhas e de como imaginamos a sociedade desde nosso mundo, e de como nos moldamos pelo olhar do outro, de como temos medo de revelar nossas fraquezas através da convivência e que o outro se visto como nosso inferno pode, ou impedir de realizarmos nossos projetos ou pode também nos lançar além de nós mesmos, ou quem sabe em nós mesmos ocultos em nós.
 E querem saber se me desfiz de meu aquário? Não posso, descobri que sou meu aquário, ou seja, sou meus desafios e soluções e que os outros são ocasiões de novas possibilidades.

Obs.: A imagem utilizada nesta postagem nos apresenta Morgan, um homem que está preso dentro de um pote transparente e que vive uma série de dilemas ao tentar escapar dessa situação um tanto inusitada. Inspirado em “A Metamorfose”, de Franz Kafka. Esta animação é dirigida por Vanessa Gomes. O curta-metragem "Morgan" foi concebido como o resultado de uma ampla pesquisa teórica realizada com o seu trabalho de conclusão do curso de design oferecido pela Faculdades de Campinas (FACAMP).

11 abril 2018

Livro do professor Tiago Lacerda: Deus como problema filosófico na Idade Média



Natural de Coronel Fabriciano (MG), o professor Tiago Lacerda é graduado em Filosofia pela Faculdade Vicentina (FAVI), Especialista em Tutoria em Educação à distância  pela Universidade Cândido Mendes, mestre e doutorando em Filosofia pela PUC-PR. É professor de Filosofia do Direito, Ciência Política e hermenêutica na Faculdade Curitibana (FAC) e Faculdade Paranaense (FAPAR) e professor de Filosofia do Quadro próprio de Magistério da SEED-PR, no Colégio Estadual Pedro Macedo.
O professor Tiago Lacerda, lançou recentemente o livro: Deus como problema filosófico na Idade Média. Na obra, o autor apresenta análises de tópicos especiais de obras da Filosofia Medieval e algumas reflexões a partir de autores como Santo Agostinho, Boécio, João Escoto Erígena, Pedro Abelardo e São Tomás de Aquino.
O objetivo do livro perpassa pela busca da verdade e, associá-la à figura de Deus é um processo a ser construído paulatinamente por meio de muitas discussões. E nessa inquietante e infinita procura, muito já foi discutido em relação à figura de Deus. De Santo Agostinho a São Tomás de Aquino, a filosofia medieval está repleta de autores que se dedicaram a falar sobre o divino e que contribuíram de forma significativa para o estudo desse problema filosófico, tornando-se, até hoje, referência fundamental nessa área. Descubra neste livro diferentes interpretações e argumentos sobre essa questão e veja como temas tão complexos quanto o divino e o metafísico são estudados à luz da filosofia. O livro pode ser adquirido pelo site da Editora Intersaberes, ou se preferir, Clique Aqui!

02 julho 2012

O sofrimento (Parte I)


por Tiago Lacerda

O sofrimento é algo que a maioria das pessoas aprendem a desprezar, pensam sempre de forma negativa a seu respeito e tentam de várias formas se livrar dele. Ninguém quer sofrer, mas também não se pode isentar de senti-lo. Assim, como sofrer e para quê sofrer? Para iniciarmos uma simples reflexão acerca do sofrimento precisamos ter em mente que: o sofrimento é real, às vezes podemos até de forma axagerada multiplicar seu tamanho e ação no nosso corpo, isso porque cada pessoa pode sofrer de forma distinta da outra, pois cada um representa o mundo de uma forma diferente, o que faz meus problemas e sofrimentos não serem relevantes para outras pessoas e vive-versa.
Há um filósofo alemão chamdo Nietzsche (1844-1900) que é muito lembrado pela sua crítica à moral cristã e lido por alguns com muito desprezo e suspeita. Mas este autor, principalmente em sua obra Humano, demasiado humano, pretendia leva o homem ao encontro consigo mesmo, livre de qualquer lei moral que lhe é imposta para tornar-se senhor de si mesmo e artista de si, construindo sua própria história. Nietzsche escreve a partir de sua própria vida, das experiências, vivências, o que torna sua filosofia mais próxima da vida como ela realmente é, sem fantasias idealistas ou crenças advindas de erros da razão por afastar o homem daquilo que lhe é próprio, da sua própria vida.


31 maio 2012

Nicolau Maquiavel (1469-1527)


            Ao falar sobre as ideias que circundam o pensamento de Maquiavel se faz necessário ressaltar que ele viveu durante a Renascença Italiana, período em que o poder era tido pela força dos déspotas. Nenhum governante conseguia manter-se no poder por muito tempo, seu principado era naturalmente transferido a outro senhor que gozada de mais poder e desta forma previsível a tirania imperava. Maquiavel passou parte de sua vida acompanhando esta situação de instabilidade e muita desordem.

23 maio 2010

Corpo x Alma e Espiritualidade



                            Blogagem Coletiva II - Espiritual-Idade - Blog da Rosélia.
Veja que na semana passada eu coloquei a imagem de uma rocha em formação pela natureza. Hoje a imagem é feita de pedras organizadas pelo homem. Convido a todos a perceberem a sutileza desta imagem relacionada com o tema a ser tratado. E depois se possível acessar os textos produzidos a partir do blog acima para valorizar a diversidade de ideias e espiritualidades. Rosélia, obrigado por mais um tema interessante, acredito que teremos ao final desta blogagem coletiva um grande tesouro, um acerto de textos que poderemos partilhar com amigos e leitores. O mais interessante é que cada blog tem um estilo diferente, o que enriquece o evento. Boa leitura a todos!

Corpo x Alma e Espiritualidade

Não é tão simples assim dizer sobre esta dualidade, é desafiante, mas nos leva a associar à nossa fé e nossa capacidade de conciliar duas realidades num só ser. Eu gosto muito da frase que Santo Agostinho escreveu logo no livro Primeiro das Confissões: “[...] o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”. Esta frase sintetiza todo o livro, a saudade de Deus é inerente ao homem. Agostinho bebe da fonte platônica, dual, mas, ao contrário de Platão, as ideias em Agostinho originam-se de Deus. Este esclarece-nos a inteligência, e é pelos sentidos e pela razão que alma aprende as noções dos objetos, das ideias, mas sempre auxiliados pelo Criador em que se localiza a verdade imutável. No texto Natureza e Espiritualidade eu já havia mencionado sobre a diferença entre os homens e os demais seres vivos que é o pensamento, a razão que nos permite mais que outros animais. Somos animais sim, como dizia Aristóteles, e racionais, estamos nesta categoria, mas neste texto de hoje praticante dando continuidade posso dizer que um outro filósofo também contribuiu muito para esta reflexão. O homem não é para Descartes um puro espírito racional, mas a união muito estreita entre uma alma e um corpo. Assim a natureza pode ser conhecida pelo homem porque ela é apenas um corpo sem nada de misterioso enquanto o homem pode ser um sujeito conhecedor porque ele é só pensamento, que segundo Descartes também não tem nada de misterioso, é uma simples consciência de si e das coisas. Esta razão, pensamento, pode nos levar a uma busca de equilíbrio para o encontro com Deus. Um equilíbrio não só do nosso pensamento e ideias, mas com o corpo. Este não é um cárcere da alma, mas é um só ser e nem um é mais importante que o outro. Se dermos mais valor a alma, desprezamos o corpo e não encontramos equilíbrio. Da mesma forma se o cuidado maior for para com o corpo a nossa alma adoece, o foco fica desnivelado e nos prendemos ao materialismo. A espiritualidade nos ajuda a conciliar estas duas realidades como um só ser que precisa ser cuidado de forma integral para como disse Agostinho repousar em Deus. Este repousar é encontrar abrigo, respostas em meio a dúvidas existenciais e de fé. Caminhamos bem com as duas pernas, e assim podemos nos equilibrar, e mesmo quando isto nos falta encontramos meios para continuar sem desistir. Dentro de nós há todo um movimento, o corpo não consegue perceber por si só, a alma é mais perspicaz para isto, mas não consegue se não estiver no ritmo para tal. Assim em unidade e equilíbrio se constrói um ser capaz de perceber que no mundo como já foi dito não há nada de misterioso, nem no corpo, nem na alma, mas há algo de secreto que pode ser conhecido, sentido e que é capaz de calar toda inquietação do nosso coração. A dança sem ritmo não encanta, e o ritmo sem nada para ser atribuído é em vazio. O interessante é permitir que o ritmo de nossa alma, em equilíbrio, leve o corpo a uma dança que não só encanta, mas descobre, desvela, uma espiritualidade que há muito foi esquecida.

25 abril 2010

Liberdade e Responsabilidade em Sartre


Gosto de conversar com as pessoas. Gosto de ouvir o que elas têm a dizer, de dar atenção e respondê-las, se ao meu alcance. Deixo claro que não tenho as respostas, mas posso ajudá-las a encontrar mais perguntas que de certa forma mostram o caminho não das respostas que querem, mas dos limites que temos em querer saber mais do que está ao nosso alcance, ao menos em alguns instantes, ou nos mais dolorosos e angustiantes. Nossa vida é de escolhas, e estas não são fáceis de manter. Há desafios, renúncias. Temos uma gama de opções no mundo, mas não podemos abraçar a todas, senão cairemos numa anarquia. É preciso um rumo certo, mas qual é o certo? Eu não saberia dizer se um só caminho é certo ou bom, ou melhor, eu não posso dizer isto. Cada um constrói o seu caminho. Sartre em O Existencialismo é um Humanismo descreve que “escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, (porque tal “mal” escolhido seria sempre um “bem”, exatamente porque se escolheu) o que escolhemos é sempre um bem. E nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos”. Isto aproxima Sartre da moral kantiana. Kant quer fazer uma filosofia da moralidade e reduzir tudo a isto. Para ser feliz, honesto... é preciso da moral. Essa moral sempre parte do homem livre, autônomo. Ele diz que a razão tem uma autonomia. O sujeito executa a lei que ele mesmo elabora e a pensa. Esta lei tem um caráter universal. Após isto o sujeito deve esforçar-se para cumprir a lei e levá-la até o fim. Assim o que nos propomos ser e fazer deveria ter um caráter universal; outros, ou melhor, a humanidade inteira poderia fazê-lo também. O que nos remete a uma responsabilidade com o que escolhermos fazer e ser. “Há muita gente que não vive em ansiedade, mas é nossa convicção que esses tais disfarçam a sua angústia, que a evitam [...] ora, a verdade é que devemos perguntar-nos sempre: que aconteceria se toda gente fizesse o mesmo?, e não podemos fugir a este pensamento inquietante a não ser por uma espécie de má-fé” (SARTRE). O que eu quero com esta reflexão é propor um pensamento que inclui. Não dar de ombros para o sofrimento alheio, que também é nosso, mas escolher dentre tantas leis morais, aquela que pode nos ajudar a partilhar com a humanidade a responsabilidade recíproca na sociedade em que estamos. O sofrimento de uma só pessoa no mundo, deveria ser capaz de fazer-nos deixar tudo para acolher aquele que precisa no momento de nossa compreensão, amizade e capacidade de amar, porque a nossa vida é um caminhar para o mistério e não adianta pensarmos ser superior a ninguém, mas sim co-responsáveis.

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril S. A. Cultural,1973. p.13. (Col. Pensadores)

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