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29 novembro 2020

Ética e política no âmbito da Filosofia Moderna


 

Tiago Eurico de Lacerda [1]

 A primeira atividade que nos exige a modernidade é uma desconstrução do mundo em que os aspectos religiosos, eternos e imutáveis são deixados de lado, mas ao mesmo tempo são parte do processo para se entender este momento da história. Não se pode falar de modernidade apenas com os predicativos de algo transitório, fugidio ou contingente. Ambas as realidades, por mais que contraditórias, se complementam para entendermos a modernidade. Segundo Harvey, “ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, transformação de si e do mundo – e ao mesmo tempo, que ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos” (2009, p. 21). A modernidade une a humanidade, mas esta ainda precisa aprender a coexistir e a conviver com as suas diferenças.

As premissas de Weber sobre o desencanto que a secularização proporcionou ao encontrar um mundo que ainda acreditava na concretização de um projeto divino ainda ecoam entre nós. Touraine nos adverte que para falar de modernidade é preciso que “a atividade intelectual seja protegida de propagandas políticas ou de crenças religiosas, que a impersonalidade das leis proteja contra nepotismo, o clientelismo e a corrupção” (1994, p. 18), ou seja, que a própria administração, seja ela pública ou privada, não seja instrumento de um poder pessoal. Precisamos compreender que a ideia de modernidade está relacionada à racionalização.

Habermas em suas obras ressalta aquilo que chamamos de moderno como um projeto de um esforço intelectual (todavia dos pensadores iluministas) para desenvolver uma ciência objetiva que proporcionasse uma emancipação do homem. Para que ele se libertasse da escassez, da necessidade, e das  arbitrariedades das calamidades naturais, ao mesmo tempo em que também se libertaria de toda a irracionalidade do mito, das superstições, da religião. É um momento profícuo para revelar as qualidades talvez tidas como obscuras do homem, mas também universais, eternas da própria humanidade. No mesmo compasso tal busca por uma emancipação do homem pode se tornar numa linguagem própria da Dialética do Esclarecimento, um sistema de opressão universal em nome da libertação humana, uma ilusão como nos adverte Adorno e Horkheimer ao refletir que a lógica que percebemos sob a racionalidade iluminista não passa de uma lógica de dominação e opressão.

Corroborando com nossa argumentação, Viesenteiner afirma que o século XIX “é marcado pela falência generalizada das principais narrativas que sustentam a cultura ocidental” (2010, p. 89). Pois aquilo que presenciamos como uma tentativa de unidade da razão como domínio tanto sobre a vida e o mundo está em crise, ou seja, a razão não é capaz de responder às questões basilares da vida humana. A questão aqui é nada mais que o panorama de uma crise ética, pois é notório o esvaziamento de significados das perspectivas e valorações morais que se cultuaram por séculos. E para um problema ético impregnado na cultura, precisamos de um “médico da cultura”, ou seja, de um diagnóstico das condições culturais do século XIX. Nietzsche, também conhecido junto com Marx e Freud como filósofos da suspeita, elabora a leitura, o diagnóstico dessa crise da ética.

Grosso modo, tal diagnóstico pode ser considerado a partir do conceito de niilismo, que segundo Viesenteiner é “a mais indesejada visita que a cultura ocidental recebe”, e ainda acrescenta que sob o ponto de vista do esvaziamento da vida e dos valores, é “o mais sinistro de todos os hóspedes” (2010, p. 91). A vida sem sentido se abre às inúmeras possibilidades de criação, ao mesmo tempo que também passam a ser criações de ilusões. Tudo se torna artificial, mercadológico. Se compra a felicidade com as ilusões do mercado e a compulsão de domínio do homem não para por aí. Ele quer dominar cada vez mais para se sentir pertencente, seja a vontade de poder aos moldes nietzschianos ou a própria vontade da técnica numa linguagem Jonasiana.

Se o homem agir conforme sua vontade sem sequer olhar as consequências das suas ações não teremos um mundo para convivermos ou coexistirmos no futuro. A perspectiva ética tratada até aqui é quanto à responsabilidade não somente no âmbito interpessoal (ética deontológica kantiana), mas em relação à toda condição possível para se viver bem sobre a terra hoje e no futuro. Segundo Marcondes, “Weber formula sua célebre distinção entre ética da convicção (Gesinnungsethik) e uma ética da responsabilidade (VerantwortungsetfiiK)” e vai privilegiar esta última, pois Weber a considerava “mais crítica, preocupada com a prática e adequada à tomada de decisões no mundo político” (2009, p. 118). Enquanto isso, a ética da convicção tende a ser mais rígida e dogmática.

É preciso pensar a dimensão política, desde os gregos para entendermos como essa relação entre ética e política funciona hoje. Se antes, na Grécia antiga, a política pretendia ser um instrumento para o bem comum, agora, principalmente depois de Maquiavel, percebemos que a essência da política se encontra na disputa e manutenção do poder. Mas como encontrar na sociedade hodierna uma política que tenha nascido da ética e ao mesmo tempo aponte caminhos inspirados no eudaimonismo aristotélico?

A resposta para essa questão não é tão simples. Antes de mais nada para elaborarmos hoje uma discussão ética e política contextualizada e séria é preciso levar em consideração dois aspectos discutidos na obra, Ética: abordagens e perspectivas, organizada pelo professor Cesar Candiotto, que são: diversidade e pluralidade. Quando pensamos que existimos, primeira descoberta do método de Descartes, “eu sou um ser pensante”, precisamos também entender que há um outro que não eu, mas também existe. Daí já caminhamos para a concepção da diversidade, nós coexistimos com nossas diferenças. E depois dessa compreensão preciso admitir que esse outro além de existir e não ser eu, pensa de uma maneira distinta da minha, pluralidade.

Ao tentar padronizar a imagem humana, extinguir a diversidade de etnias e elaborar uma ditadura do pensamento é que vimos muitos povos serem exterminados. Presenciamos uma eugenia em detrimento de características “menos nobres” e muitos aplaudiram na época, ainda nos perguntamos: como? Mas hoje, com a polarização política inserida na cibercultura com todas as veiculações de Fake News fica fácil entender épocas sombrias em que à razão humana era creditada o poder de domínio. O cenário brasileiro das últimas eleições presidenciais para cá apresentou o próprio diagnostico nietzschiano do niilismo em que as pessoas perdidas de seus valores e dominadas pela ilusão aos moldes das ideias de Horkheimer, preferem o nada a querer algo.

Tal cenário foi percebido por uma política fundamentada numa ideologia que conseguiu fazer com que a classe trabalhadora percebesse que mesmo estando numa desgraça social imensurável, preferiram adotar os valores da classe dominante e votar em propostas que vão ao encontro da precarização do trabalho, único meio que as pessoas (trabalhadoras) possuem para subsistir e sentirem-se inseridas na sociedade. O candidato vencedor chegou a dizer: “escolham, ou trabalho ou direitos, ambos não é possível”. E mesmo assim ganhou as eleições. Será que podemos discutir uma ética que em algum momento tenha buscado uma Eudaimonia grega nos tempos atuais? A modernidade não trouxe apenas a desfragmentação do homem, mas o lançou no caos existencial. Por isso por pouco ou por nada, alguns se lançam às cegas em ideologias contraditórias com os valores do bem comum, mas ainda acreditam estarem fazendo o melhor para si e para o seu país.

Como considerações finais podemos afirmar que mesmo pensando a partir da modernidade é de fundamental importância, como muitos modernos o fazem, um olhar para as origens da política e buscar uma compreensão, seja no âmbito do saber teórico ou prático, para entendermos a atual realidade de nosso país e do mundo. Assim, será possível a partir de uma prática prudencial ou como os próprios gregos utilizavam o termo, phronesis, fazer um melhor discernimento ético de como poderemos guiar com sabedoria o homem nesses novos caminhos de uma ética e política que estão em constante transformações conceituais dentro da história.

[1] Currículo Lattes 

 REFERÊNCIAS


HARVEY, David. Condição Pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 18. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

TOURAINE, Alain. Crítica da modernidade. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

VIESENTEINER, Jorge L. Nietzsche e o niilismo como diagnóstico da crise da ética. In.: CANDIOTTO, Cesar. Ética: abordagens e perspectivas. Curitiba: Champagnat, 2010.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Ética: de Platão a Foucault. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

 

Para citar esse texto:

LACERDA, Tiago Eurico de. Ética e política no âmbito da Filosofia Moderna. Londrina, novembro de 2020. In.: Tiago Lacerda. Disponível em: http://www.tiagolacerda.com/2020/11/etica-e-politica-no-ambito-da-filosofia.html.

 

03 setembro 2017

Questões sobre Filosofia Política


Questões sobre Filosofia Política
Livro: Fundamentos de Filosofia (Gilberto Cotrim)

1) Sintetize e compare os conceitos antigo e moderno de política.

Resposta: Na concepção clássica grega o conceito de política refere-se à arte de governar a polis, ligada ao bem comum e à ética. Enquanto que na modernidade, o conceito passou a ser estritamente ligado ao poder, ou seja, a métodos de se conseguir algo. Sendo assim, a questão ética , que está implícita na ideia de bem comum é colocada em segundo plano ou totalmente abandonada.

2) Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados. Explique essa afirmação.

Resposta: A afirmação quer dizer que “poder” é a capacidade de alcançar algum objetivo, utilizando artifícios como os econômicos. Poder vem do latim potere, posse “poder, ser capaz de”. Refere-se fundamentalmente à faculdade, capacidade, recursos para produzir certos efeitos, segundo o filosofo inglês Bertrand Russell poder é a capacidade de fazer com que os demais realizem aquilo que queremos. Assim a frase “poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados”, quer dizer que quem tem poder manda.

3) Comente a afirmação de Norberto Bobbio de que o poder político é o poder supremo numa sociedade de desiguais.

Resposta: O poder político se vale de diferenças sociais para determinar e controlar uma sociedade de modo que esta atenda aos interesses dos que estão no topo da hierarquia. Bobbio desenvolve o argumento de que o poder econômico é fundamental para que o mais rico subordine o mais pobre, assim como o poder ideológico é necessário para conquistar a adesão da maioria das pessoas aos valores do grupo dominante. No entanto, só o uso do poder político, da força física, serve, em casos extremos, para impedir a insubordinação ou desobediência dos subordinados. E nas relações entre dois ou mais grupos poderosos, em termos econômicos ou ideológicos, o instrumento decisivo na imposição da vontade é a guerra, que consiste no recurso extremo do poder político.


4) Analise e comente o conceito de Max Weber para Estado?

Resposta: É uma instituição política, onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física, com vistas ao cumprimento das leis. Max Weber teve como objeto de pesquisa ou inspiração teórica a análise da estrutura política alemã. A concepção de Estado para Weber estaria relacionada ao controle do poder estatal por uma burocracia militar e civil. Para Weber o Estado é: "Uma relação de homens dominando homens, mediante violência considerada legítima". Para Weber há três formas de ação social: Tradicional, a Carismática e a Legal. A partir de Weber, podemos derivar o seguinte conceito: Estado é a instituição que, dirigida por um governador soberano, reivindica o monopólio de uso legítimo da força física em determinado território, subordinando os membros da sociedade que nele vivem.

5) Em que sentido pode falar de uma contraposição entre sociedade civil e estado?

Resposta: Na linguagem política contemporânea, tornou-se comum estabelecer a contraposição sociedade civil e Estado. Nessa contraposição, o Estado costuma ser entendido como a instituição que exerce o poder coercitivo (a força) por intermédio de suas diversas funções, tanto na administração pública como no Judiciário e no Legislativo. Por sua vez, a sociedade civil costuma ser definida como o largo campo das relações sociais que se desenvolvem fora do poder institucional do Estado, como é o caso dos sindicatos, empresas, escolas, igrejas, clubes, movimentos populares etc.


6) Qual deve ser a função dos partidos políticos em relação à sociedade civil? Em sua opinião, eles cumprem essa função no Brasil? Pesquise e justifique sua resposta.


Resposta: Possuem uma importante função de atuar como ponte entre a sociedade civil e o Estado. Atualmente no Brasil os partidos políticos têm a função teórica e ideológica que tem em vista a conquista e manutenção do poder político para, por meio dele, realizar finalidades de interesse geral da população.
Entretanto, no Brasil os partidos muitas vezes deixam de ser eficazes pois eles omitem as coisas diante de seus olhos para seus próprios políticos que acabam agindo contrariamente à lei furtando, ou aplicando o dinheiro da sociedade em seu próprio benefício ou até erradamente, além disso ainda há muitas suspeitas de roubos de grandes partidos que praticamente controlam a política brasileira.


7) Regime político é o modo característico pelo qual o Estado relaciona-se com a sociedade civil. Como se relacionam com a sociedade civil os regimes políticos democrático e ditatorial? Detalhe suas características


Resposta: No Regime Democrático, os Estados foram ficando, com o tempo, muito complexos, os territórios extensos e as populações numerosas. Tornou-se inviável a proposta de os próprios cidadãos exercerem diretamente o poder. Assim, a democracia deixou de ser o governo direto do povo. O que encontramos, atualmente, é a democracia representativa, em que os cidadãos elegem seus representantes políticos para o governo do Estado. O ideal de democracia representativa é ser o governo dos representantes do povo. Representantes que deveriam exercer o poder pelo povo e para o povo. Nos dias de hoje, um Estado costuma ser considerado democrático quando apresenta as seguintes características: Participação política do povo; Divisão funcional do poder político; Vigência do estado de direito entre outras.

Quanto ao Regime Ditatorial, na antiga república romana, ditador era o magistrado que detinha temporariamente plenos poderes, após ser leito para enfrentar situações excepcionais, como, por exemplo, os casos de guerra. Seu mandato era limitado a seis meses, embora houvesse a possibilidade de renovação, dependendo da gravidade das circunstâncias. Comparado com suas origens históricas, o conceito de ditadura conservou apenas esse caráter de poder excepcional, concentrado nas mãos do governo. Atualmente, um Estado costuma ser considerado ditatorial quando apresenta as seguintes características: Eliminação da participação popular nas decisões políticas; Concentração do poder; Inexistência do estado de direito; Fortalecimento dos órgãos de repressão; Controle dos meios de comunicação de massa.

8) Destaque os aspectos do pensamento político de Platão que culminam com a ideia de um rei-filósofo.

Resposta: Em seu livro, A República, Platão faz uma analogia entre o indivíduo e a cidade, pela qual assim como as três partes do indivíduo (três almas: concupiscente, irascível e racional) devem alcançar um equilíbrio entre sí, um equilíbrio hierárquico em que a alma racional pondere, as três partes ou classes da cidade (trabalhadores, guardiões e governantes) devem fazer o mesmo para alcançar a justiça. Durante a fase de educação, que seria universal, cada indivíduo seria direcionado para uma destas atividades de acordo com suas aptidões e os mais aptos continuariam seus estudos até o ponto mais alto deste processo, a filosofia, a fim de se tornarem sábios e se habilitarem a administrar a cidade. Aquele que pela contemplação das ideias, conhecesse a essência da justiça, deveria governar a cidade: seria o rei-filósofo. Ele não propunha a democracia como a forma ideal de governo e a sua justificativa para essa posição está na alegoria da caverna. Somente aquele que saindo do mundo das trevas e da ilusão, e buscando o conhecimento e a verdade no mundo das ideias, poderia depois voltar para dirigir as pessoas que não alcançaram esse ponto.


9) A base do pensamento político de Aristóteles é a afirmação de que o ser humano é por natureza um animal político. Explique:

a) Como ele chegou a tal conclusão:

Resposta: Baseando na ideia de que o ser humano é um animal que não consegue viver completamente isolado de seus semelhantes. Se o fizesse, não sobreviveria. Por isso, viver em sociedade é um impulso natural do indivíduo.

b) Como essa conclusão vincula-se à ideia de que o objetivo da política é o bem comum, e o que é o comum pra ele.

Resposta: Se o ser humano é por natureza um animal social, a sociedade deve ser organizada conforme essa mesma natureza humana. O que deve guiar a organização de uma sociedade é a mesma busca de cada indivíduo, que é, para Aristóteles, a felicidade. Isso quer dizer que o objetivo da cidade e da política deve ser também a vida boa e feliz dos seus habitantes, ou seja, deve ser a busca de um determinado bem, correspondente aos anseios dos indivíduos que a organizaram. E esse é o bem comum.

10) A partir da Idade Média, que relação se estabeleceu no pensamento político entre a ideia de Deus e a de governante? Que teoria se formulou a seu respeito no início da idade moderna? Explique-a.

Resposta: Foi a ideia de que os governantes seriam representantes de Deus na terra. Por isso o direito de governar dos reis eram divinos, concedidos por Deus. A teoria que se formou a este respeito na idade moderna, denominou-se teoria do direito divino dos reis. De acordo com um dos seus principais expoentes, Bodin, a monarquia seria o regime mais adequado à natureza das coisas, pois a família tem um só chefe, o pai; o céu tem apenas um sol, o universo, só um Deus criador. Assim, a soberania do Estado só podia se realizar plenamente na monarquia. O governante eleito deveria fazer tudo de acordo com a lei de Deus ou seja, de acordo  como a “Igreja” desejava. Já no início da idade moderna o governante não fazia mais como “DEUS” queria, mas sim, como ele achava correto.


11) O realismo político de Maquiavel inaugurou uma nova maneira de pensar a política. Que maneira foi essa? Como essa novidade se expressou?

Resposta: Foi justamente o seu realismo político. Pela primeira vez se escrevia sobre a política real sem a pretensão de fazer um tratado a respeito da política ideal, mas, ao contrário, com o propósito de compreender e esclarecer os princípios da política como ela é. Dessa forma, entendendo que a luta entre os poderosos e oprimidos, governantes e governados existiriam sempre, evidenciou-se que seria uma ilusão buscar um bem comum para todos. O objetivo da política seria na realidade a manutenção do poder. Para isso, o governante deveria usar de todas as armas, fazer aquilo que, a cada momento, se mostrasse interessante para conservar ou chegar ao poder. Desmascarando sua lógica mostrou-se que na política os fins justificam os meios. Assim, a política se constituía pela primeira vez em uma esfera autônima, desvinculada da esfera da moral e da religião.

12) Hobbes entendia que o “'homem é o lobo de próprio homem”. Explique essa tese e como ela o levou à sua concepção de Estado?

Resposta: Hobbes concluiu em sua investigação que o ser humano embora viva em sociedade, não possui o instinto natural de sociabilidade. Então cada um vê outras pessoas como concorrentes, e quando não tem controle sobre ela, passa a existir uma competição até que ela consiga dominar a outra. Essa consequência irá gerar um estado de guerra, daí o significado da frase acima, pois o homem naturalmente só pensa em si mesmo e quer a sua própria glória.
Só havia então uma forma de dar fim a essa brutalidade, criando o Estado que iria impor ordem e direção. Neste Estado ele imagina um rei, mas um déspota que governasse com tirania, pois um papel assinado não garantiria paz.

13) Locke e Rousseau também formularam suas teorias contextualizadas acerca da origem do Estado, polemizando em grande parte as concepções de Hobbes. Discorra sobre as teorias, procurando destacar os aspectos desse debate.

Resposta: Locke fez uma reflexão mais moderada a respeito da teoria de Hobbes. Referindo-se ao Estado de natureza como uma condição na qual na falta de normatização cada um seria seu próprio juiz o que levaria a problemas.
O Estado seria criado para garantir que a liberdade dos direitos naturais, vida e propriedade aos indivíduos. Contrário de Hobbes, Locke concebe a ideia da sociedade política para manter os direitos naturais.

Rousseau, por outro lado, foi mais além, glorificando os valores da vida natural, e exaltava a liberdade que o selvagem teria desfrutado na pureza do seu estado natural. Investigando, Ele então defende a tese de que o único argumento político para o poder é o pacto social. Onde cada um deve se submeter à vontade geral do governante, onde o interesse é o bem comum. Assim cada um deve obedecer as leis, assim se obedece à vontade geral e consequentemente a si mesmo.

14) Que critica faz Hegel às concepções de Hobbes, Locke e Rousseau?

Resposta: Ele criticou a ideia de que a concepção liberal do Estado parte da ideia do indivíduo isolado e que depois se organizou a sociedade. Para ele, o indivíduo é um ser social e encontra seu sentido no Estado. Para ele não existe ser humano em estado de natureza, mas unicamente o ser social que só encontra o seu sentido no Estado. E o Estado vem antes do indivíduo.

15) Como se posicionam Marx e Engels em relação a teoria contratualista e liberal a respeito da origem e do papel do Estado?


Resposta: Para eles, em um determinado momento de desenvolvimento das sociedades humanas, certas funções administrativas antes feitas por um grupo de pessoas, passaram a serem feitas apenas por um grupo limitado de pessoas que detinham a força para impor normas de organização. Daí o Estado. Essa separação pode ter ocorrido através de brigas por desigualdades sociais entre explorados e exploradores. Assim o papel do Estado era controlar esses conflitos, porém o mesmo nasceu em meio a um grande conflito por isso acabou sempre aparentar defender os dominadores e não os dominados.

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14 setembro 2015

Questões sobre Filosofia Política com Gabarito



01) (UEL) “Toda cidade [polis], portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma criação natural, e que o homem é por natureza um animal social, e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da humanidade”. ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. De Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997. p. 15.)

De acordo com o texto de Aristóteles, é correto afirmar que a polis:

a) É instituída por uma convenção entre os homens.
b) Existe por natureza e é da natureza humana buscar a vida em sociedade.
c) Passa a existir por um ato de vontade dos deuses, alheia à vontade humana.
d) É estabelecida pela vontade arbitrária de um déspota.
e) É fundada na razão, que estabelece as leis que a ordenam.

02) (UEL) “O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam de jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e conseqüentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.” (HOBBES, Thomas. Leviatã. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974). Com base no texto e nos conhecimentos sobre o Estado de natureza em Hobbes, considere as afirmativas a seguir.

I. Todos os homens são igualmente vulneráveis à violência diante da ausência de uma autoridade soberana que detenha o uso da força.
II. Em cada ser humano há um egoísmo na busca de seus interesses pessoais a fim de manter a própria sobrevivência.
III. A competição e o desejo de fama passam a existir nos homens quando abandonam o Estado de natureza e ingressam no Estado social.
IV. O homem é naturalmente um ser social, o que lhe garante uma vida harmônica entre seus pares.

Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.     
b) I e IV.     
c) III e IV.     
d) I, II e III.     
e) II, III e IV.

03) (UFSM) “A história oficial nos faz acreditar que os portugueses, ao desembarcarem no Brasil, encontraram um Éden terrestre, pleno de florestas intocadas, fauna abundante, praias paradisíacas. Um lugar onde os bons selvagens reinariam em plena sintonia com a natureza”. (National Geographic, maio 2007. p. 60). A ideia de “bons selvagens” contraria a tese de que:

I. O homem é bom por natureza, à sociedade o corrompe.
II.  O homem é mau por natureza, vivendo em permanente guerra de todos contra todos.
III.  todos por natureza, são livres e iguais.
Está(ão) correta(s):

a) I apenas.    
b) II apenas.    
c) III apenas.    
d) I e II apenas.    
e) I, II e III.

04) (UFU) De acordo com Rousseau, “A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhes faltava.” (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Coleção Os Pensadores. p.36.) Sobre a passagem do estado de natureza para o estado civil, é correto afirmar que:

a) O homem mantém a liberdade natural e o direito irrestrito, e ainda ganha uma moralidade muito particular guiada pelo seu puro apetite.
b) O homem perde a liberdade natural e o direito à propriedade, mas adquire a obrigação de seguir sua própria vontade.
c) O homem perde a liberdade natural e o direito ilimitado, mas ganha a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.
d) O homem mantém a liberdade natural e o direito ilimitado, mas abdica da liberdade civil em favor da liberdade moral.

05) (UFF 2010) De acordo com o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), em seu estado natural, os seres humanos são livres, competem e lutam entre si. Mas como têm em geral a mesma força, o conflito se perpetua através das gerações, criando um ambiente de tensão e medo permanentes. Para Hobbes, criar uma sociedade submetida à lei e na qual os seres humanos vivam em paz e deixem de guerrear entre si, pressupõe que todos os homens renunciem a sua liberdade original e deleguem a um só deles (o soberano) o poder completo e inquestionável. Assinale a modalidade de governo que desempenhou importante papel na Filosofia Política Moderna e que é associada à teoria política de Hobbes.

a) Monarquia Censitária
b) Monarquia Absoluta
c) Sistema Parlamentar
d) Despotismo Esclarecido
e) Sistema Republicano

06) Representava o pensamento das camadas populares, ao afirmar que a fonte do poder era o próprio povo. Em seu livro Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, afirma que "o primeiro que concebeu a ideia de cercar uma parcela de terra e dizer 'isto é meu', e que encontrou gente suficientemente ingênua que lhe desse crédito, esse foi o autêntico fundador da sociedade civil. De quantos delitos, guerras, assassínios, desgraças e horrores teria livrado o gênero humano aquele que, arrancando as estacas e enchendo os sulcos divisórios, gritasse: 'cuidado, não deis crédito a esse trapaceiro, perecereis se esquecerdes que a terra pertence a todos'."

A que filósofo iluminista refere-se o texto?

a) Voltaire. 
b) Montesquieu. 
c) Rousseau
d) Denis Diderot.  
e) Jean d'Alembert

07) (UFPR 2010) A respeito do iluminismo, movimento filosófico que se difundiu pela Europa ao longo do século XVIII, considere as seguintes afirmativas:

I - Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Voltaire e Diderot, foram leitores, admiradores e divulgadores da filosofia política produzida pelos ingleses, como John Locke com sua crítica ao absolutismo.
II - Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas não eram contra a monarquia, mas contra as ideias de que o poder monárquico fora constituído pelo direito divino e de que ele não poderia ser submetido a nenhum freio.
III - A descoberta da perspectiva e a valorização de temas religiosos marcaram as expressões artísticas durante o iluminismo.
IV - Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande impulso das descobertas marítimas.
Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa I é verdadeira.
b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.

08) (UEL 2008)  Para Locke, o estado de natureza é um estado de liberdade e de igualdade. (LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Tradução de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 83).

Com base nos conhecimentos sobre a filosofia política de Locke, assinale a alternativa correta.

a) No estado de natureza, a liberdade dos homens consiste num poder de tudo dispor a partir da força e da argúcia.  
b) Os homens são iguais, pois todos têm o mesmo medo de morte violenta em mãos alheias.  
c) A liberdade dos homens determina que o estado de natureza é um estado de guerra de todos contra todos.  
d) A liberdade no estado de natureza não consiste em permissividade, pois ela é limitada pelo direito natural.  
e) Nunca houve na história um estado de natureza, sendo este apenas uma hipótese lógica.  

09) (UFPB 2009) (Adaptado) Leia o texto abaixo:

“[...] o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a História, é que os homens devem estar em condições de viver para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos.” MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 39.
As análises históricas de Marx (1818-1883), pensador alemão, exerceram e ainda exercem grande influência nas ciências humanas e sociais, entre elas, a História. Sobre a concepção marxista de História, assinale as alternativas verdadeiras.

1) A concepção da luta de classes como motor da História foi atribuída indevidamente ao marxismo, para o qual as transformações históricas decorrem apenas das ações dos indivíduos.
2) O marxismo defende, teoricamente, uma postura neutra do historiador diante da sociedade e do conhecimento produzido sobre a mesma e, assim, nega validade prática a sua própria concepção.
4) As sociedades, para Marx, não podem ser compreendidas sem um estudo pormenorizado de sua base econômica, e esse entendimento significa a análise da sua organização material para a produção da sobrevivência humana.
8) Os marxistas são ardorosos defensores do fim da história, pois essa tese representa a culminância do desenvolvimento humano, com a glorificação da sociedade de mercado e da democracia liberal.
16) A História, para Marx, é feita por todos, principalmente os trabalhadores, e essa concepção  rompia com a ideia, bastante comum no século XIX, de uma História feita apenas pelos “grandes homens”.

A soma das respostas corretas é:

a) 03.   
b) 07.    
c) 20.    
d) 24.    
e) 31. 

10) Tendo em vista as correlações entre ética e política, julgue os itens seguintes.

a) Platão relata, no mito da caverna como alegoria da realidade, que alguém tem a missão de resgatar os seus irmãos. Essa pessoa é o político.
b) Segundo Maquiavel, no seu livro O Príncipe, o governante tem que assegurar e manter o poder político. Desenvolve, então, uma teoria em que os meios justificam os fins, afirmando que a principal qualidade do príncipe é a virtude.
c) Para Aristóteles, o correto agir principia na esfera individual, com a "ética"; passa para a família, com a "economia"; e culmina na sociedade, com a "política".
d) A ética e a política são duas ciências independentes; a ética trata dos costumes e a política dos hábitos.

11) (Upe 2010) As ideias liberais refizeram reflexões e anunciaram novas perspectivas sociais. Um dos seus pensadores mais famosos, Locke, defendia o(a)

a) Fim da propriedade privada e da escravidão, com a queda da sociedade colonial e o fim do mercantilismo.
b) Consolidação da monarquia constitucional, destacando a universalidade do conhecimento e as possibilidades de massificação da cultura.
c) Pensamento de Descartes e o fim do idealismo, ressaltando o valor de democracia e da igualdade social na Europa do século XVII.
d) Liberdade natural dos humanos, afirmando a necessidade da propriedade privada e combatendo o absolutismo.

e) Crescimento do capitalismo, sem afetar a força política da nobreza e dos poderes dos monarcas absolutistas da época.

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