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30 maio 2010

Tempo e Espiritualidade


Blogagem Coletiva III - Espiritual-Idade


A experiência de poder perceber que o tempo é para nós um momento de graça é simplesmente um convite a reconhcer a bondade de Deus em nos presentear com tal sabedoria e compreensão. Da mesma forma convido a todos para que acessem os outros blogs e confiram a riqueza da diversidade.
Tempo e Espiritualidade
por Tiago Lacerda

Com o tempo temos a ideia de presente, passado e futuro. Na filosofia existencialista de Heidegger o passado pode ser entendido como ponto de partida ou fundamento das possibilidades porvindouras, e o futuro como possibilidade de conservação ou mudança, do passado, em limites determináveis a cada vez. Temos no futuro apenas possibilidades, estas podem ser direcionadas a alguma mudança, ou não. A sociedade hodierna está repleta de pessoas que não se contentam com sua própria existência, estão em algum tempo, vivendo alguma vida, mas longe do presente. Isto pode causar desespero, angústia nas pessoas, que no lugar de ter o futuro como possibilidade de mudar ou conservar algo, fazem dele um momento atual, o que resulta em frustrações quando não alcançados os objetivos traçados. Da mesma forma pessoas que vivem no passado precisam dar lugar ao presente para que possam respirar com mais liberdade; ficar preso em fatos que se foram e que poderiam ter sido diferentes é sofrer sem possibilidade de mudar. O passado é um ponto de partida, dele visualizamos as possibilidades do futuro e fazemos o melhor para que no presente estas possam ser estruturadas de forma que sejam possíveis suas realizações. No evangelho encontramos algumas pistas, orientações para percebermos a lógica de Deus e podermos viver de acordo com seus ensinamentos, iluminações, buscando não só viver o presente, mas fazer dele oportunidade e possibilidade de mudança para outros que não tem as mesmas oportunidades que gozamos muitas vezes. No início do texto vimos o futuro como possibilidade, porque pelo passado posso vislumbrá-lo; a partir do evangelho vamos compreender o presente como tal, pois este é o momento em que estamos e enquanto muitos querem salvar sua vida alcançando tudo, buscando o máximo que podem e querendo ser tudo, recebemos um chamado para perder a nossa vida, ser o essencial e buscar a um princípio que fundamenta a nossa existência (Cf. Lc 9, 24). É um paradoxo que nos deixa confusos, mas perder a vida é deixar-se ser moldado e ser instrumento de apoio para quem nada possui, os pobres. Os pobres aqui são todos aqueles que sofrem e são excluídos de alguma forma. São aqueles que choram, mas suas lágrimas se transformarão em alegrias, serão consolados (Cf. Mt 5, 4), porque este clamor chega a Deus, e ele envia a cada um de nós para ser estes instrumentos de seu amor. É preciso perder a vida sim na lógica do evangelho, perder tempo com Deus, para ganhar tempo em Deus. Porque quem quiser ser o primeiro, este deve dar o exemplo, sendo o último, o que serve a todos (Cf. Mc 9,35). Não é se rebaixar para seguir uma regra, mas se libertar de tudo o que a sociedade impõe como princípio para uma felicidade que parece não ser possível e que levam muitos a se desgastarem. E finalizo com a citação de Atos dos Apóstolos em que nos ensina que há maior alegria em dar, que receber (Cf. Atos 20, 35). Quando encontramos este caminho norteador no serviço a Deus e ao próximo, encontramos o caminho que nos leva a conhecer o nosso próprio coração. Por isso, gastar tempo com os que precisam é ao mesmo tempo cuidar de nós mesmos.

23 maio 2010

Corpo x Alma e Espiritualidade



                            Blogagem Coletiva II - Espiritual-Idade - Blog da Rosélia.
Veja que na semana passada eu coloquei a imagem de uma rocha em formação pela natureza. Hoje a imagem é feita de pedras organizadas pelo homem. Convido a todos a perceberem a sutileza desta imagem relacionada com o tema a ser tratado. E depois se possível acessar os textos produzidos a partir do blog acima para valorizar a diversidade de ideias e espiritualidades. Rosélia, obrigado por mais um tema interessante, acredito que teremos ao final desta blogagem coletiva um grande tesouro, um acerto de textos que poderemos partilhar com amigos e leitores. O mais interessante é que cada blog tem um estilo diferente, o que enriquece o evento. Boa leitura a todos!

Corpo x Alma e Espiritualidade

Não é tão simples assim dizer sobre esta dualidade, é desafiante, mas nos leva a associar à nossa fé e nossa capacidade de conciliar duas realidades num só ser. Eu gosto muito da frase que Santo Agostinho escreveu logo no livro Primeiro das Confissões: “[...] o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”. Esta frase sintetiza todo o livro, a saudade de Deus é inerente ao homem. Agostinho bebe da fonte platônica, dual, mas, ao contrário de Platão, as ideias em Agostinho originam-se de Deus. Este esclarece-nos a inteligência, e é pelos sentidos e pela razão que alma aprende as noções dos objetos, das ideias, mas sempre auxiliados pelo Criador em que se localiza a verdade imutável. No texto Natureza e Espiritualidade eu já havia mencionado sobre a diferença entre os homens e os demais seres vivos que é o pensamento, a razão que nos permite mais que outros animais. Somos animais sim, como dizia Aristóteles, e racionais, estamos nesta categoria, mas neste texto de hoje praticante dando continuidade posso dizer que um outro filósofo também contribuiu muito para esta reflexão. O homem não é para Descartes um puro espírito racional, mas a união muito estreita entre uma alma e um corpo. Assim a natureza pode ser conhecida pelo homem porque ela é apenas um corpo sem nada de misterioso enquanto o homem pode ser um sujeito conhecedor porque ele é só pensamento, que segundo Descartes também não tem nada de misterioso, é uma simples consciência de si e das coisas. Esta razão, pensamento, pode nos levar a uma busca de equilíbrio para o encontro com Deus. Um equilíbrio não só do nosso pensamento e ideias, mas com o corpo. Este não é um cárcere da alma, mas é um só ser e nem um é mais importante que o outro. Se dermos mais valor a alma, desprezamos o corpo e não encontramos equilíbrio. Da mesma forma se o cuidado maior for para com o corpo a nossa alma adoece, o foco fica desnivelado e nos prendemos ao materialismo. A espiritualidade nos ajuda a conciliar estas duas realidades como um só ser que precisa ser cuidado de forma integral para como disse Agostinho repousar em Deus. Este repousar é encontrar abrigo, respostas em meio a dúvidas existenciais e de fé. Caminhamos bem com as duas pernas, e assim podemos nos equilibrar, e mesmo quando isto nos falta encontramos meios para continuar sem desistir. Dentro de nós há todo um movimento, o corpo não consegue perceber por si só, a alma é mais perspicaz para isto, mas não consegue se não estiver no ritmo para tal. Assim em unidade e equilíbrio se constrói um ser capaz de perceber que no mundo como já foi dito não há nada de misterioso, nem no corpo, nem na alma, mas há algo de secreto que pode ser conhecido, sentido e que é capaz de calar toda inquietação do nosso coração. A dança sem ritmo não encanta, e o ritmo sem nada para ser atribuído é em vazio. O interessante é permitir que o ritmo de nossa alma, em equilíbrio, leve o corpo a uma dança que não só encanta, mas descobre, desvela, uma espiritualidade que há muito foi esquecida.

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