Trabalho - Parte II: Da tortura à dignidade



Pensando o trabalho a partir da tortura (como era visto) até o momento em que foi tido como uma atividade que dignifica o homem.

O termo trabalho pode ter nascido do vocábulo latino tripallium, que sig­nifica "instrumento de tortura", e por muito tempo esteve associado à ideia de atividade penosa e torturante. Nas sociedades grega e romana era a mão-de­-obra escrava que garantia a produção necessária para suprir as necessidades da população. Existiam outros trabalhadores além dos escravos, como os meeiros, os artesãos e os camponeses. No entanto, mesmo os trabalhadores livres eram explorados e oprimidos pelos senhores e proprietários. Estes eram desobrigados de qualquer atividade, exceto a de discutir os assuntos da cidade e o bem-estar dos cidadãos. Para que não dependessem do próprio trabalho e pudessem se dedicar exclusivamente a essa atividade, o trabalho escravo era fundamental. O trabalho passou a ter valor após a Revolução Industrial e emergência do mercantilismo e do capitalismo devido a necessidade de mão de obra requerida pela burguesia que ganhava forças cada vez mais. a partir daí passou-se a pensar o trabalho como algo valoroso, algo que dignifica o homem, o trabalho mudou de figura e era preciso agora convencer as pessoas de que trabalhar para os outros era bom.

Algumas mudanças ocorreram na estrutura do trabalho. O pensamento primário a respeitodo trabalho foi tomando novo rumo. artesãos e pequenos produtores se transformaram em assalariados. vamos ver como se deu esse movimento conceitual do trabalho.
Primeiro, casa e local de trabalho foram separados; depois, separaram o trabalhador de seus instrumentos; por fim, tiraram dele a possibilidade de conseguir a própria matéria-prima. Tudo passou a ser dos comerciantes e industriais que haviam acumulado riquezas. Eles financiavam, organizavam e coordenavam a produção de mercadorias, definiam o que produzir e em que quantidade. Afinal, o dinheiro era deles.
Essa transformação aconteceu por meio de dois processos de organização do trabalho: a cooperação simples e a manufatura (ou cooperação avançada).
Na cooperação simples, era mantida a hierarquia da produção artesanal entre o mestre e o aprendiz, e o artesão ainda desenvolvia, ele próprio, todo o processo produtivo, do molde ao acabamento. A diferença é que ele estava a serviço de quem lhe financiava não só a matéria-prima, como até mesmo alguns instrumentos de trabalho, e também definia o local e as horas a ser trabalhadas. Esse tipo de organização do trabalho abriu caminho para novas formas de produção, que começaram a se definir como trabalho coletivo.
No processo de manufatura (ou cooperação avançada), o trabalhador até continuava a ser artesão, mas não fazia tudo, do começo ao fim. O sapato, por exemplo, era feito a muitas mãos, como numa linha de montagem. Cada um cuidava de uma parte, como hoje acontece com os carros e tantos outros produtos fabricados.



Com esse processo ocorreu o convencimento do trabalhador de que a situação presente era melhor do que a anterior. Diversos setores da sociedade colaboraram para essa mudança:
  • As igrejas procuraram passar a idéia de que o trabalho era um bem divino e quem não trabalhasse não seria abençoa­do. Não trabalhar (ter preguiça) passou a ser pecado.
  • Os governantes passaram a criar uma série de leis e decre­tos que penalizavam quem não trabalhasse. Os desempre­gados eram considerados vagabundos e podiam ir para a prisão. Inclui-se aqui o auxílio da polícia, encarregada de prender esses "vagabundos".
  • Os empresários desenvolveram uma disciplina rígida no trabalho, principalmente com horários de entrada e saída dos estabelecimentos.
  • As escolas passaram às crianças a ideia de que o trabalho era fundamental para a sociedade. Esse conceito era ensinado, por exemplo, nas tarefas e lições e também por meio dos contos infantis. Quem não se lembra, por exemplo, da his­tória da Cigarra e da Formiga ou da dos Três Porquinhos? Quem não trabalhava "levavasempre a pior".

Resumindo:
O trabalho era visto de forma torturante.
  • Era uma atividade apenas voltada para escravos ou classe mais pobre.
  • Era valorizado quem não trabalhava, pois tinha que pensar na vida e nos assuntos da sociedade.
  • O trabalho passou de uma concepção de algo vil para uma atividade que dignifica o homem.
  • Dois processos de organização do trabalho: cooperação simples e manufatura.
  • Algumas instituições colaboraram para esta mudança: igrejas, governantes, empresários e escolas.

Referência:
TOMAZI, Nelson Dácio. Sociologia para o Ensino Médio. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2010



Tiago Lacerda

Professor no Departamento de Ciências Humanas e Sociais - UTFPR - Campus de Londrina. Professor do Quadro Próprio de Magistério da SEED-PR. Mestre e doutor em Filosofia pela PUCPR.

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