Pular para o conteúdo principal

O sofrimento (Parte I)


por Tiago Lacerda

O sofrimento é algo que a maioria das pessoas aprendem a desprezar, pensam sempre de forma negativa a seu respeito e tentam de várias formas se livrar dele. Ninguém quer sofrer, mas também não se pode isentar de senti-lo. Assim, como sofrer e para quê sofrer? Para iniciarmos uma simples reflexão acerca do sofrimento precisamos ter em mente que: o sofrimento é real, às vezes podemos até de forma axagerada multiplicar seu tamanho e ação no nosso corpo, isso porque cada pessoa pode sofrer de forma distinta da outra, pois cada um representa o mundo de uma forma diferente, o que faz meus problemas e sofrimentos não serem relevantes para outras pessoas e vive-versa.
Há um filósofo alemão chamdo Nietzsche (1844-1900) que é muito lembrado pela sua crítica à moral cristã e lido por alguns com muito desprezo e suspeita. Mas este autor, principalmente em sua obra Humano, demasiado humano, pretendia leva o homem ao encontro consigo mesmo, livre de qualquer lei moral que lhe é imposta para tornar-se senhor de si mesmo e artista de si, construindo sua própria história. Nietzsche escreve a partir de sua própria vida, das experiências, vivências, o que torna sua filosofia mais próxima da vida como ela realmente é, sem fantasias idealistas ou crenças advindas de erros da razão por afastar o homem daquilo que lhe é próprio, da sua própria vida.




A essência da Filosofia de Nietzsche é uma coisa simples: dificuldades são normais. Não devemos entrar em pânico ou desistir de tudo. Nosso sofrimento vem da distância entre aquilo que somos e o que idealizamos ser. Por não dominarmos a receita da felicidade, acabamos sofrendo. Mas Nietzsche achava que não bastava sofrer. Se o único requisito para se sentir realizado fossem as dificuldades, todos seriam felizes. O segredo está em saber reagir bem ao sofrimento. Ou quem sabe saber usá-lo para criar coisas belas. Não pretendo levar ninguém a pensar que seja necessário buscar o sofrimento, isso é um absurdo. Ele vem a nós sem que peçamos, se instala em nós de tal forma e quando tentamos resistir ou buscamos subterfúgios para afastá-lo, acabamos por fortalecê-lo e prolongamos este sofrimento em nosso corpo. O que fazer? Não há uma receita, mas é preciso entender o que o sofrimento quer de nós, é preciso encarar de frente a dor causada por ele e vivenciá-lo sem medo. Ele faz parte do processo que se chama vida e não é eterno, ele vai por si mesmo, sem que eu faça algo para retirá-lo de mim. A partir do momento que encaramos e vivemos seja qual for tal sofrimento, aprendemos algo, crescemos e nos fortalecemos.
E quero terminar esta reflexão com uma frase de Nietzsche do seu livro Aurora, parágrafo 443 "Paulatinamente esclareceu-se para mim, a mais comum deficiência de nosso tipo de formação e educação: ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina - a suportar a solidão". Terminei dizendo sobre a solidão pois este é o ponto que teremos para iniciar nossa próxima reflexão sobre o sofrimento. Se não sei viver o sofrimento, se não aprendi, como compreender que a solidão é algo que precisa ser também aprendida e valorizada para a vida?
Deixe seu comentário com sugestões ou questões para continuarmos nossa trajetória em busca de uma vida fortalecida pelas experiências e pelas coisas que lhe são mais próximas.

Comentários

  1. O sofrimento tem o poder de lapidar a alma e cada lágrima, como que um diamante, leva embora em suas faces as tristes memórias de uma dor, para que assim um novo sentimento possa despertar e agora fortalecido, se possa novamente caminhar.

    ResponderExcluir
  2. Olá Claudine! Que bom partilhar contigo o meu blog. É uma alegria receber seu comentário e perceber que a palavra escrita sempre pode ser partilhada, moldada, mudada, trasnformada, assim como nossa vida e experiências. Que fique para nós o sentido da mudança que sempre transforma e nos traz algo novo. O difícil é perceber que esse novo as vezes é precedido pelo sofrimento, que nada tem de negativo, mas simplesmente, um sinal que leva a refletir a vida. Beijo

    ResponderExcluir
  3. Olá, amigo Tiago
    Estou tanto tempo fora da net... com post programado e nem vi sua última postagem...
    A Missão me prende fora daqui...
    O sofrimento é uma escola de vida... por ele temos aceso às portas do Céu... vale a pena acatá-lo e sofrer com paciência a espera da demora de Deus em nós...
    Seja abençoado e feliz!!!
    Bjs fraternos de paz

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Popular Posts

Questões de filosofia com gabarito

QUESTÕES DE FILOSOFIA – COM GABARITO   EPICURO 01) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.(EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In : SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974). No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim:   a) Alcançar o prazer moderado e a felicidade. b) Valorizar os deveres e as obrigações sociais. c) Aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação d) Refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. 02) Leia o trecho da Carta a Meneceu:"Nenhum jovem deve demorar a filosofar, e nenhum velho deve parar de filosofar, pois nunca é cedo demais nem tarde demais para a saúde da alma. Afirmar que

Questões de prova sobre: As desigualdades sociais

01 - (UEL – 2003) Observe os quadrinhos: (QUINO. Toda Mafalda . São Paulo: Martins Fontes, 1992). Os quadrinhos ilustram uma forma comum de explicar a pobreza e as desigualdades sociais. Assinale a alternativa que apresenta pressupostos utilizados pela teoria liberal clássica para compreender a existência da pobreza e que foram também assumidos pela personagem Susanita em suas falas. a) As desigualdades sociais podem ser compreendidas através da análise das relações de dominação entre classes, que determinam o sucesso ou o fracasso dos indivíduos. b) A existência da pobreza pode ser compreendida a partir do estudo das relações de produção resultantes da exploração de uma classe sobre a outra. c) A divisão em classes sociais no capitalismo está baseada na liberdade de concorrência; assim, a pobreza decorre das qualidades e das escolhas individuais. d) O empobrecimento de alguns setores sociais no capitalismo decorre da apropriação

01 - Mito e Filosofia (Questões com gabarito)

Quando pensamos na transição entre o mito e a filosofia salientamos que mesmo a filosofia nascente trazendo uma proposta mais racional em relação à toda explicação mítica, ela ainda apresentava "vínculos" com a antiga forma de conceber o universo, principalmente se tomamos como exemplo os jônios e todo o pensamento que busca na natureza e seus elementos aquilo que seria o princípio universal de todas as coisas. Enquanto o mito não se importava com as contradições e contos fabulosos, a filosofia organiza seu percurso através da lógica e do uso da razão. Mas não nos enganemos com essa simples colocação, pois há uma ruptura perceptível entre ambas. Enquanto o mito é envolto de crenças inquestionáveis, a filosofia nasce do próprio rechaço às explicações inquestionáveis e promove uma problematização de tudo. Ela rejeita o sobrenatural e a interferência dos deuses na explicação dos fenômenos naturais. Ela busca ao contrário do mito definir os conceitos e se organizar como um

Questões de prova sobre Ética e Moral - Prova I - Com Gabarito

01) "Moral (mos, moris, "costume"): conjunto de normas livres e conscientemente adotadas que visam a organizar as relações das pessoas na sociedade, tendo em vista o bem e o mal; conjunto dos costumes e valores de uma sociedade, com caráter normativo (regras do comportamento das pessoas em grupo)". (ARANHA, Maria L. de Arruda. Filosofando: Introdução à filosofia. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003). Sobre a moral, é CORRETO afirmar que:  a) O estudo da moral deixa de ser uma questão de cunho filosófico passando a ser objeto de estudo da teologia. b) A moral não estabelece regras para a vivência em sociedade. c) A moral se reduz a um conjunto de normas, regras e valores que são adquiridas através da herança e recebidas pela tradição. d) Através da reflexão crítica, o sujeito tende a colocar a moral e os valores vigentes em questão, questionando-os e criticando-os. e) Todas as alternativas acima estão erradas 02) A teoria Ética de Kant e Stuart Mill

Postagens mais visitadas deste blog

Questões sobre Filosofia Estética com Gabarito

01) “Um quadro não é pensado ou fixado de antemão. Enquanto o produzimos ele segue a modalidade do pensamento. Depois de terminado ele continua a mudar, conforme o estado daquele que contempla. Um quadro segue sua vida como um ser vivo, sofre as mudanças que a vida cotidiana nos impõe. Isto é natural, já que um quadro só vive graças àquele que o contempla.”   Pablo Picasso. Este fragmento do pensamento de Pablo Picasso significa: a) O quadro é um ser vivo e é independente do artista, assume forma independente e é altamente abstrato em relação à realidade sensível. b) O quadro é apenas o resultado do pensamento do artista que expressa a sua imaginação em um pedaço qualquer de superfície que permita a expressão máxima do artista. c) Um quadro, por mais que tenha a intencionalidade de um artista por de trás de sua criação, sempre se manterá vivo mesmo que um artista já o tenha terminado. Isso só é possível porque quem o contempla terá sempre a chance de fazer uma nova interpr

Questões sobre Filosofia Política

Questões sobre Filosofia Política Livro: Fundamentos de Filosofia (Gilberto Cotrim) 1) Sintetize e compare os conceitos antigo e moderno de política. Resposta: Na concepção clássica grega o conceito de política refere-se à arte de governar a polis, ligada ao bem comum e à ética. Enquanto que na modernidade, o conceito passou a ser estritamente ligado ao poder, ou seja, a métodos de se conseguir algo. Sendo assim, a questão ética , que está implícita na ideia de bem comum é colocada em segundo plano ou totalmente abandonada. 2) Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados. Explique essa afirmação. Resposta: A afirmação quer dizer que “poder” é a capacidade de alcançar algum objetivo, utilizando artifícios como os econômicos. Poder vem do latim potere, posse “poder, ser capaz de”. Refere-se fundamentalmente à faculdade, capacidade, recursos para produzir certos efeitos, segundo o filosofo inglês Bertrand Russell poder é a capacidade de fazer c

Questões de prova sobre Ética e Moral - Prova I - Com Gabarito

01) "Moral (mos, moris, "costume"): conjunto de normas livres e conscientemente adotadas que visam a organizar as relações das pessoas na sociedade, tendo em vista o bem e o mal; conjunto dos costumes e valores de uma sociedade, com caráter normativo (regras do comportamento das pessoas em grupo)". (ARANHA, Maria L. de Arruda. Filosofando: Introdução à filosofia. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003). Sobre a moral, é CORRETO afirmar que:  a) O estudo da moral deixa de ser uma questão de cunho filosófico passando a ser objeto de estudo da teologia. b) A moral não estabelece regras para a vivência em sociedade. c) A moral se reduz a um conjunto de normas, regras e valores que são adquiridas através da herança e recebidas pela tradição. d) Através da reflexão crítica, o sujeito tende a colocar a moral e os valores vigentes em questão, questionando-os e criticando-os. e) Todas as alternativas acima estão erradas 02) A teoria Ética de Kant e Stuart Mill